RIO -Publicado de forma independente, num pequeno formato, ?Risco no disco? reuniu
em seu lançamento algumas das maiores cabeças da poesia marginal daquele ano de
1981. Numa ação entre amigos, Chico Alvim, Ana Cristina Cesar, Luis Olavo
Fontes, Pedro Lage e Eudoro Augusto, entre outros, vieram prestigiar o segundo
livro da poeta Ledusha (pseudônimo de Leda Beatriz Spinardi), que esgotou-se
rapidamente e se transformou em uma joia rara nos sebos. A criatividade e a
leveza quase ?profana? de versos como ?eu não ia/mas dava um realce na barra/e
afogava balzac na pia? também inspiraram as gerações posteriores, apesar da
dificuldade de se encontrar os poemas.
Não por acaso, a obra inaugura a nova coleção ?2a edição?, da Luna Parque,
que pretende publicar títulos importantes que estavam fora de circulação. O
lançamento acontece nessa segunda, a partir das 18h30m, na llivraria
7Letras (Rua Visc. de Pirajá, 580, Ipanema ? 2540-0076).
? Durante todos esses anos pessoas me procuram querendo saber onde encontrar
um exemplar de Risco no Disco ? lembra Ledusha. ? Eu sempre acabava dando os
meus, fiquei anos sem nenhum, até que o poeta Carlito Azevedo encontrou um num
sebo e me deu de presente. Sempre recebi mensagens de poetas jovens dizendo o
?Risco no Disco” foi o start na escrita deles, então é um livro que
teve uma ressonância bem bacana.
bru led Depois do lançamento, muitos dos poemas do livro circularam de forma avulsa
em antologias posteriores. Foi nesse formato que alguns dos poetas
contemporâneos influenciados pelo trabalho de Ledusha os descobriram, incluindo
Marília Garcia, editora responsável pela nova edição. Para ela, a leitura da
obra em sua forma completa causa um impacto ainda maior. A reedição, por sinal,
reproduz o formato gráfico do original, com as imagens do miolo dialogando com
os versos. Até a foto da capa ? um still do ?Acossado?, de Jean-Luc
Godard ? é a mesma.
? Acho que muitos poetas da minha geração admiram bastante e leram a Ledusha
? diz Marília. ? No meu caso fui bastante impactada pela leitura, sobretudo por
esta liberdade que ela tem de misturar referências de várias áreas, de misturar
Toddy e Maiacóvski, de modo bastante leve, mas sem perder força. É uma poesia
que tem uma série de intertextos com cinema, literatura, música, e que mistura
alta e baixa cultura de um jeito bastante humorado, e ainda por cima com um
humor muito ácido.
Autora do livro ?Rilke Shake?, Angélica Freitas leu Ledusha pela primeira vez
em 1994, na coletânea ?Finesse e fissura?, que reunia duas obras da poeta:
?Risco no disco? e ?Nocaute?. Interessou-se de cara pelo humor contido nos
poemas.
? Achei o livro por acaso em um sebo em Porto Alegre ? lembra. ? Abri… e lá
estava Ledusha afogando Balzac na pia.
A poeta Bruna Beber lembra que ela e Angélica leram toda a obra da Ledusha
trocando e ?contrabandeando? via correio versões em xérox dos livros.
? No início dos 2000, fucei muito atrás da Ledusha na internet, não achei
nada. Na época, existiam pouquíssimos sites e blogs de poesia na internet, para
se conseguir uma informação era um parto. Finalmente achei ?Risco no Disco? no
sebo Berinjela, a primeira edição, que tenho até hoje, toda colada. E então
começamos a trocar Ledusha pelo correio. Ouso dizer que foi a primeira poeta que
eu li e pensei ?ah tá, agora sim?.
Já Ramon Mello, autor de ?Vinis mofados?, foi atraído pela ligação de Ledusha
com a música, a oralidade de seus versos e a relação com a cultura pop.
? Ela me influenciou no sentido de entender que era possível escrever fazendo
essa mistura, dialogando com a vida, com a rua ? conta. ? Comprei ?Risco no
disco? em um sebo virtual, na época em que estava escrevendo ?Vinis
mofados?.
A obra de Ledusha conserva o espírito da Poesia Marginal, da qual foi
contemporânea, embora ela garanta que tenha ficado ?à margem dos marginais?.
Vivendo no Rio da metade da década de 70 até metade da de 80, nunca fez parte
oficial do grupo. Todavia, chegou a formar com Ana C. um grupo de amigos chamado
?Coleção Capricho?.
? Não participava das discussões, eventos e tal, confesso que sempre fui meio
avessa a grupos, então de certa forma me mantive à margem ? lembra. ? Convivi
com os poetas, fui amiga do Cacaso, da Ana C., ainda sou do Pedro Lage, do Luis
Olavo Fontes, do Charles Peixoto, do Chacal. Namorei alguns, também… Mas em
1981 o grupo já estava em outra, então meu livro traz ecos do movimento, claro,
como a edição independente, a linguagem coloquial, mas ocorre numa fase de
transição, de um modo geral.
Depois de ?Risco no disco?, Ledusha escreveu ainda ?Finesse e fissura? (1984)
e ?Exercícios de levitação? (2002) ? este último uma reunião de poesia e prosa
que publicava em uma coluna na ?Folha de S. Paulo?. Ela também compôs a letra de
músicas para Francis Hime, Lobão e Cazuza. Por sinal, a famosa frase ?Prefiro
toddy ao tédio?, que estampava camisas do cantor, foi tirada de um poema de
?Risco no disco?, intitulado ?new-maiacovski?.
Apesar da influência de seus versos aparecer claramente na
dicção de jovens poetas contemporâneos como Angélica, Bruna e Ramon Mello,
Ledusha diz que conhece ?vergonhosamente pouco? a poesia atual.
? Gosto muito dos brilhantes Carlito Azevedo, Eucanaã Ferraz, Antonio Cícero,
que não são ?novos?, mas ?mais novos? , além das poetas Angelica Freitas,
Marília Garcia, Bruna Beber… Mas não posso me estender sobre o assunto, não
seria honesto da minha parte. Pelo Facebook fico sabendo que há uma quantidade
enorme de jovens escrevendo poesia, muitas mulheres, inclusive, mas o que
conheço deles é o pouco do que leio em seus perfis. Passei alguns anos sem poder
ler, então estou atrasada em outras áreas da literatura também. Felizmente,
agora é possível me dedicar à recuperação desse tempo vazio, e a lista é quase
infinita!
“Risco no disco”
Editora: Luna Parque
Páginas: 64
Preço: R$ 20
Lançamento: segunda-feira, a partir das 18h, na llivraria
7Letras (Rua Visc. de Pirajá, 580, Ipanema ? 2540-0076)