Casamos para ter uma vida melhor. Ninguém embarca em um casamento consciente de ter uma vida infeliz, salvo raras exceções. Não nos privamos de nossa liberdade, de gerenciar nossa própria vida, nosso ir e vir, o sono tranquilo, a vida girando em torno de nós mesmos para despertarmos dentro de uma gaiola. É contra a natureza de qualquer espécie, inclusive a nossa, viver na amargura. Se gostamos de uma pessoa e com ela queremos estar é porque queremos construir uma vida melhor, certo?
Pois é, mas como em qualquer construção, cimento, por si só, não basta. É preciso ter mais. São necessários cabos de aços, alicerces, areia, pastilhas e uma boa dose de conhecimento porque tempestades põem abaixo qualquer edificação. Paredes caídas precisam ser refeitas e até aqui entra a mesma regra: cimento, só, não basta. É preciso muito mais. Nesse casamento, engenheiro e arquiteto precisam ter o mesmo foco que é o sucesso do empreendimento. E o mesmo vale quando a gente decide pela vida a dois.
Casamento também é assim. Não basta só amar, tem que saber engolir sapo, chorar sozinho para não sobrecarregar o outro. Não basta só o "eu te amo”, é preciso ter dinheiro. Não basta o sexo diário, é necessário sexo ardente. Não basta ter carinho, é preciso ter compreensão. Não basta ter filhos, é indispensável estar ao lado deles. Não basta ser mãe, tem que ser mulher. Não basta fazer o jantar, é essencial acertar o paladar do outro, pessoa que também casou para ter uma vida melhor e que lentamente tem se dado conta de que os compromissos aumentaram, as contas também.
Não casamos para nos sentir cansados. Não casamos para ficar trancados em casa. Não casamos para atender apenas as prioridades dos outros. Não casamos para deixar a vida que queremos para mais tarde. Casar tem suas surpresas, seu segredos, seus mistérios. Casar com que se ama também é fechar a porta do quarto e se esconder de todos de vez em quando. Casar também é sentir medo do amanhã, é se desapontar, se desiludir, porque casar também é absorver a dor do outro que não necessariamente absorve a sua. Casar é entender que não se pode ser aquilo que não se é por muito tempo porque fingimento não se sustenta, é areia de praia na construção, a obra racha, o prédio cai, e isso por que amor só não basta.
Chegar em casa depois de um dia exaustivo não significa, necessariamente, uma banheira de água quente, velas aromáticas e pétalas de rosa no chão. Nem sempre haverá taça de vinho tinto e tábua de queijo, filme de ação até às duas da manhã. Casar é chegar em casa onde está uma mulher igualmente cansada, é ser exigido dos filhos até às onze da noite, é rolar na cama sem dormir. O "desliga essa tevê, coma tudo, não grite, escove os dentes, não desobedeça seu pai!” não estavam nos planos de ninguém.
E assim é a construção. O marido a ama, a mulher é louca por ele, mas às vezes amar não é o suficiente para cimentar os alicerces de uma família.