RIO Uma das dificuldades enfrentadas no combate ao câncer é o fato de os tumores serem formados por células do próprio corpo, mas uma vacina mostrou ser capaz de ativar o sistema imunológico do paciente contra a doença. Os resultados dos experimentos com camundongos foram bem sucedidos, e os primeiros testes com humanos já estão em andamento. De acordo com os pesquisadores, a expectativa é que a técnica seja aplicável a qualquer tipo de neoplasia, numa nova classe universal de vacina contra o mal que mata mais de 8 milhões de pessoas por ano.
A abordagem de imunoterapia com nanopartículas de RNA introduzida aqui pode ser considerada uma nova classe universal de vacina para a imunoterapia do câncer, diz o estudo publicado nesta quarta-feira na Nature.
A imunologista Jolanda de Vries, da Universidade Radboud, na Holanda, explica que as células cancerígenas são similares, em muitas formas, às células normais, e o sistema imunológico evita atacar o próprio corpo. Burlar esse mecanismo e fazer com que as defesas do organismo destruam o câncer é uma das frentes mais promissoras de tratamentos contra a doença. Vários estudos estão sendo conduzidos nesse sentido, mas a nova técnica inova ao usar sequências do RNA retiradas das próprias células cancerígenas. Dessa forma, em tese, ela é capaz de combater qualquer variação da doença, e com baixo custo.
Essas vacinas são de produção rápida e barata, e virtualmente qualquer antígeno de tumor pode ser codificado pelo RNA, destacam os cientistas liderados pela Universidade Johannes Gutenberg, na Alemanha.
Até agora, os cientistas tentavam criar em laboratório células imunológicas capazes de combater o câncer, e depois as injetavam no paciente. A nova técnica introduz pedaços do RNA do tumor nas células imunológicas dentro do corpo. A ideia por trás do procedimento é simples. As células cancerígenas não são atacadas pelo sistema imunológico porque são similares às células sadias. Então, os pesquisadores pegam pedaços do RNA que as diferenciam das células normais e as apresentam para as células dendríticas, responsáveis por mostrar aos linfócitos T quais antígenos devem ser destruídos.
O procedimento foi bem sucedido em combater formas agressivas de tumores crescendo em camundongos. Os pesquisadores também testaram uma versão da vacina em três pacientes com melanoma, não com o objetivo de testar a eficácia, mas observar a segurança da aplicação em humanas. Os efeitos colaterais foram limitados a sintomas de um resfriado, o que é muito melhor que os danos provocados pela quimioterapia.
Mesmo assim, o sistema imunológico dos pacientes mostrou reação, mas sem evidências de regressão do câncer. Em um dos pacientes, um nódulo diminuiu de tamanho após a vacina. Outro, que havia retirado os tumores cirurgicamente, estava livre da doença sete meses após a vacinação. O terceiro paciente tinha oito tumores que se espalharam de um câncer inicial no pulmão. Após a vacina, os cancros se mantiveram clinicamente estáveis.
Agora, a equipe aguarda um período de 12 meses de observação dos testes de segurança. Se tudo correr bem, um teste clínico maior será realizado para comprovar a eficácia do tratamento.
Pela combinação de estudos em laboratório e pré-testes clínicos, essa pesquisa mostra um novo tipo de tratamento com vacina que pode ser usado em pacientes com melanoma pelo fortalecimento dos efeitos do sistema imunológico disse Aine McCarthy, do instituto Cancer Research do Reino Unido, ao Telegraph. Como a vacina só foi testada em três pacientes, testes clínicos maiores são necessários para confirmar seu funcionamento e segurança, enquanto outros estudos vão determinar se ela pode ser usada em outros tipos de câncer.