FLORIANÓPOLIS – O presidente da Previ, Gueitiro Matsuo Genso, afirmou, na última terça-feira, que os investimentos do fundo de pensão investigados na operação Greenfield faziam sentido quando foram feitos. De acordo com ele, as aplicações na Sete Brasil e no FIP (fundo de investimento em participações) estavam amparadas pelo cenário econômico da época e gozavam de credibilidade junto a grandes bancos, enquanto que a Invepar (operadora do Metrô Rio) mostra rentabilidade mais de 160% acima da meta desde 2000.
? Na Sete Brasil não entrou só fundo de pensão estatal. Entrou fundo de pensão de empresa privada e tem banqueiro. Então, o investimento se mostrava adequado à época. O FIP Global Equity, o administrador era o Citi e depois o Santander, entidades de credibilidade. A Previ investiu nesse FIP, que é um investimento de risco maior, criado para construção de residência em 2009, na época em que o segmento estava aquecido. Ao detectar que o gestor não estava cumprindo o seu papel, a Previ foi uma das primeiras a votar e discutir na governança dos cotistas a troca do administrador, a exigir prestação de contas e auditoria. Nós divulgamos para o nossos associados no relatório de 2015 que tínhamos problemas nesse FIC. Tanto Sete Brasil quanto o FIP estavam provisionados – afirmou Genso ao GLOBO.
Genso disse que, embora a Previ apoie iniciativas que levem a Sete Brasil a entregar retorno ao investimento, ele “não tem uma opinião completamente formada do impacto” do plano de recuperação judicial apresentado pela empresa. Segundo ele, ainda há discussões sobre o plano entre os cotistas do FIP Sondas, que detém 95% da Sete Brasil. Genso afirmou que, para o resultado do fundo de pensão – o maior da América Latina, com R$ 160,7 bilhões de investimentos, a participação 2,1% do FIP Sondas, ou R$ 180 milhões, é pequena. Mesmo assim, a Previ vai buscar o pagamento desse dinheiro “por qualquer meio que for”:
– O que a gente está lutando é para recuperar esse dinheiro, por qualquer meio que for. Não vamos medir esforços de buscar pela via amigável, pela via judiciária, para em buscar esse dinheiro. Isso a gente está avaliando dentro de casa.
Genso ressaltou que a Previ “não tem um centavo aplicado na OAS”, construtora em recuperação judicial que é um dos alvos da operação Lava Jato e também é sócia da Invepar. Ele também afirmou que a acusação contra Sergio Rosa – ex-presidente da Previ e que teria recebido por meio de uma consultoria propina da OAS para que o fundo de pensão fizesse investimentos do interesse da OAS – diz respeito a acontecimentos ocorridos dois anos após sua saída do fundo de pensão (ele saiu em 2010).
– A atribuição que se faz ao ex-presidente da Previ é de fatos relacionados a uma empresa na qual não temos um centavo investido, que é a OAS. O que se lê na imprensa é que isso teria ocorrido dois anos depois de o presidente ter saído. É uma discussão privada que não tem nada a ver – disse Genso, que participou do congresso da Abrapp em Florianópolis.
O presidente da Previ defendeu a Invepar como “um bom investimento” mesmo com os fundos tendo tido que aportar R$ 1 bilhão na companhia no fim do ano passado por causa de sua dívida. Ele atribuiu as dificuldades da companhia à crise econômica:
– A Invepar é um bom investimento. O número atualizado, de 2000 pra cá, é (de rentabilidade) de 167% acima de nossa meta atuarial, mesmo com a necessidade de aportes. Estamos falando de bons ativos, como Metrô Rio e Guarulhos. Investimento em infraestrutura passa por uma fase de grandes investimentos no início e depois você tem um longo período de coleta de resultados. A situação dela é de conjuntura. Menos pessoas viajando nas estradas, menas pessoas viajando no aeroporto, outras empresas de capital aberto sofreram impacto.
Há algumas semanas, a Invepar vendeu por R$ 4,5 bilhões à francesa Vinci Highways suas participações na operadora de rodovias Lamsac e na firma de pedágios Pex Peru, ambas no país andino. Para Genso, o negócio ajudará a restabelecer a saúde financeira da companhia brasileira:
– Esse dinheiro fará com que a companhia possa sair do momento difícil de caixa. A gente acredita muito no retorno do investimento que está lá (na Invepar).
Genso defendeu as críticas de que o fundo teria feito más escolhas de aplicação sustentando que a Previ tem um política de investimento robusta.
– Nós passamos pela CPI dos Fundos no ano passado e não tem um CPF da Previ indiciado. Muito por conta de nossa política de investimento, que não permitia concentrar no FIP mais que um determinado valor. Não tivemos perda com nenhum banco com intervenção nos últimos anos. Não perdemos nenhum centavo, por exemplo, com título da Venezuela… (uma alusão ao Postalis, fundo de pensão dos Correios, que teve prejuízos com esses papéis). Isso porque nossa política de investimento tem robustez – disse.
Otimismo com possibilidade de evitar equacionamento
Genso está otimista com a possibilidade de evitar um equacionamento do seu plano Previ 1, de benefício definido, está com rentabilidade de 12,64% até agosto no ano, contra meta de 9,6% para 2016. Isso representa um superávit de R$ 2,53 bilhões segundo o presidente. Esse volume precisa chegar a R$ 2,9 bilhões até o fim de dezembro para cobrir o déficit que precisa ser equacionado. (O déficit de 2015 foi de R$ 13,9 bilhões (após ajuste nos preços de renda fixa), mas novas regras da Previc admitem um déficit R$ 11 bilhões para o fundo de pensão do BB.
– Uma variável que vai impactar muito é a variação dos ativos de Vale, que representam 35% da carteira de renda variável. Outra empresa com participação importante é a Neoenergia. O setor de energia este ano tem andado muito bem, tanto que um investidor de energia despertou interesse em ativos de CPFL – disse Genso. – Estamos otimistas, mas fazer previsão de Bolsa até para alguns dias à frente é difícil.
Apesar dos rumores de que o governo estaria interessado em substituí-lo na chefia da Previ, Genso disse que segue no cargo pois não foi informado sobre mudanças.
– Eu sou funcionário de carreira, sou um técnico sem filiação partidária. Eu respondo ao Conselho Deliberativo. O BB que faz a indicação de três diretores. Eu não tenho nenhuma informação do conselho, muito menos do BB, sobre isso. É uma pergunta que deve ser feita ao banco – afirmou.
Concessões
O presidente da Previ afirmou que o fundo de pensão não prevê participar diretamente em consórcios que vão participar do novo programa de concessão do governo, mas deseja aplicar em títulos de dívida privados (debêntures) cuja emissão está prevista no programa.
– Tornar os ativos líquidos não passa apenas por ativos públicos. É importante que tenha mercado de títulos privados de renda fixa no Brasil. Nossa política de investimento não prevê entrar em um “equity” (participação em consórcios), que você não tenha certeza de quando vai sair. Bons papéis de longo prazo, com risco adequado e que remunere acima da nossa meta atuarial, nos parece interessante analisar – comentou. – Não necessariamente infraestrutura está ligada a algo ruim.
* O repórter viajou a convite da Abrapp