AMSTERDÃ – O principal desafio ? evitar um triunfo da extrema-direita nas urnas ? já passou, e a vitória foi celebrada não apenas na Holanda, mas também pelos países vizinhos. No entanto, agora, após obter o maior número de cadeiras no Parlamento, o Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD, na sigla em holandês), legenda de centro-direita do primeiro-ministro Mark Rutte, tem pela frente outra difícil missão: montar um governo na fragmentada configuração política do país. As chances de alianças com o segundo colocado, o Partido pela Liberdade (PVV, na sigla em holandês), de extrema-direita, foram descartadas por todas as principais legendas do país. Assim, Rutte, que perdeu oito cadeiras, busca formar um governo de coalizão com partidos centristas como os Democratas 66 (D66) e os democratas-cristãos, ambos com 19 cadeiras. holanda
O líder do D66, Alexander Pechtold, afirmou ao diário ?De Telegraaf? que espera participar do governo, mas antes ?ouvirá o que o VVD tem a dizer?. Já Sybrand van Haersma Buma, líder dos democratas-cristãos, disse que não necessariamente busca um papel no novo governo, mas acredita que sua legenda deve assumir a responsabilidade de integrar a coalizão.
? Não somos apenas uma solução provisória para a criação de um Gabinete ? afirmou Buma.
A união dos três partidos deixaria a coalizão governista com 71 parlamentares, cinco abaixo da maioria, o que exigirá que Rutte negocie com uma quarta legenda. O Partido Trabalhista, que participou do segundo governo de Rutte e sofreu uma devastadora derrota nas urnas, passando de 38 cadeiras para apenas nove, já antecipou que irá para a oposição.
? Temos sobre nossos ombros a pesada responsabilidade pelo futuro da social-democracia ? afirmou o líder do partido, Lodewijk Asscher.
Já a Esquerda Verde, que teve o maior crescimento parlamentar, passando de quatro cadeiras para 14, não descartou inteiramente a possibilidade de participar do governo, mas destacou que a incompatibilidade com os liberais dificultaria a formação de uma coalizão.
? O partido cresceu muito e agora é minha responsabilidade ver se podemos governar ? afirmou o líder da legenda, Jesse Klaver, que durante as eleições afirmou não ter planos de se unir a um governo do VVD. ? Preferia me unir a partidos de esquerda e a nossos amigos cristãos.
Entre as outras legendas que conquistaram espaço no Parlamento estão eurocéticas como a União Cristã, com cinco cadeiras; o calvinista Partido Político Reformado, com três, e o Foro para a Democracia, com duas. Completam a lista partidos de esquerda e tradicionalmente de oposição como o Partido Socialista, com 14 assentos; o Partido dos Animais, com cinco, e o multiculturalista Denk, com três. Qualquer participação dessas legendas numa coalizão é considerada amplamente improvável pela imprensa holandesa.
? Precisaremos de algum tempo até que todos retornem ao espírito de cooperação ? afirmou Rutte. ? Isso não acontece de uma hora para outra.
Se na Holanda as atenções se voltaram para o desafio de formação de governo, no resto da Europa a derrota do PVV e de seu líder, o polêmico Geert Wilders, foi recebida com entusiasmo, especialmente em Alemanha e França, que terão eleições este ano, e onde a extrema-direita tem conquistado espaço.
?Parabéns à Holanda por ter freado os avanços da extrema-direita?, afirmou, no Twitter, o ministro francês da Relações Exteriores, Jean-Marc Ayrault, enquanto o diário francês ?Le Monde?, afirmou: ?A Holanda e a Europa podem respirar aliviadas. A Primavera dos Populistas não teve início em Haia?.
? Fiquei feliz e acho que muitos também ficaram de ver que a alta participação eleitoral levou a um resultado bastante pró-europeu ? afirmou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, em discurso em Berlim.