Na reta final das eleições peruanas, a filha do ex-ditador Alberto Fujimori, preso por violação de direitos humanos e corrupção, lidera as pesquisas de intenção de voto, com seis pontos percentuais de vantagem sobre o rival Pedro Pablo Kuczynski, ou simplesmente PPK. Segundo a consultoria Ipsos, um quinto dos eleitores está indeciso, o que torna o resultado imprevisível na reta final do processo eleitoral.
O PIB peruano, revela o FMI, cresceu 3,3% em 2015 e deve avançar para 3,7% este ano. A inflação está sob controle, tendo alcançado 3,5% no ano passado, com projeção de queda para 3,1% em 2016. Já o desemprego deve permanecer estável em 6%. Num quadro como esse, a principal preocupação dos eleitores é com a insegurança, sobretudo nas periferias das principais cidades, o que tem favorecido Keiko Fujimori, que adotou o mesmo tom belicoso do pai em sua retórica contra a delinquência. Pesquisa local mostra que quase 90% da população acredita que será vítima de algum crime nos próximos 12 meses.
Em muitos aspectos, o discurso beligerante de Keiko evoca o do pai, que em sua gestão decretou ?guerra? contra a guerrilha e acabou condenado por violação de direitos humanos. A candidata, de 41 anos, chegou mesmo a defender a pena de morte para pedófilos, e prometeu colocar o Exército no combate ao crime. Desde 2009, o ex-presidente Alberto Fujimori foi condenado em vários processos por corrupção e crimes humanitários, inclusive a morte de 25 pessoas, sequestros e tortura durante seu governo (1990-2000).
Embora Keiko tenha passado boa parte da campanha tentando se desvincular da imagem do pai, há temores de que a candidata possa de algum modo indultá-lo. A volta do ?fujimorismo? é tida como um retrocesso perigoso, ao ponto de até mesmo a candidata de esquerda, Veronika Mendoza, terceira colocada no primeiro turno, anunciar o apoio a PPK, numa campanha de voto útil. Kuczynski também recebeu o respaldo de Lourdes Flores Nano, líder do Partido Popular Cristão.
Keiko, porém, possui uma boa estrutura partidária, e seu partido, o Fuerza Popular, tem maioria no Parlamento. Ela conseguiu manter uma vantagem em relação a PPK, mesmo depois de o segundo líder em sua agremiação, Joaquin Ramirez, se ver obrigado a renunciar, após autoridades peruanas anunciarem que o investigam por lavagem de dinheiro. Outros membros da coalizão de Keiko são acusados de ligação com o tráfico de drogas.
As chances de vitória de Keiko preocupam, dentro e fora do Peru. Além do temor de uma guinada truculenta e autoritária na política, pesam igualmente os danos que o ?fujimorismo? poderá causar a uma economia saudável e articulada comercialmente com países vizinhos, por meio da Aliança do Pacífico.