BRASÍLIA ? O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou nesta quarta-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra o presidente do PP, o senador piauiense Ciro Nogueira, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Operação Lava-Jato. Ele é investigado em um dos inquéritos da Operação Lava-Jato, suspeito de ter solicitado R$ 2 milhões a Ricardo Pessoa, da construtora UTC. Segundo as investigações da Polícia Federal, os pagamentos somaram R$ 1,875 milhão e foram feitos por intermédio do doleiro Alberto Youssef em um contrato fictício com um escritório de advocacia, cujo único serviço teria sido um relatório produzido por um estagiário.
Com a denúncia em mãos, o relator do inquérito, ministro Teori Zavascki, vai elaborar um voto e levar à Segunda Turma do STF. Se os ministros concordarem com a denúncia, Nogueira será réu em uma ação penal.
Além de Nogueira, a PF viu indícios de crimes cometidos por mais quatro pessoas: Fernando Mesquita de Carvalho filho, ex-assessor do senador; os advogados e sócios Fernando Mesquita de Carvalho Filho e Sidney Sá das Neves; e o próprio Ricardo Pessoa. A PF suspeita que o ex-assessor cometeu corrupção passiva. No caso dos dois advogados, a acusação é de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Pessoa teria cometido corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Em delação premiada, Ricardo Pessoa disse que o senador lhe pediu R$ 2 milhões no segundo semestre de 2013, alegando despesas médico-hospitalares de um parente. Pessoa disse ter atendido a solicitação, tendo em vista uma contrapartida futura, como obras no Piauí ou no Ministério das Cidades, na época chefiado pelo PP. Segundo termo de depoimento de Pessoa, reproduzido no relatório da PF, “o senador Ciro Nogueira chegou a falar o seguinte: ‘Você tem que fazer obras no Piauí, porque a gente ainda vai crescer muito no Piauí'”.
O empreiteiro contou também que pagou inicialmente R$ 1,4 milhão, em três parcelas, por meio do doleiro Alberto Youssef. A entrega teria sido feita na casa do senador em Brasília, por Rafael Angulo Lopez, que trabalhava com Yousseff, a uma pessoa chamada Fernando. Segundo a investigação da PF, trata-se de Fernando Mesquita de Carvalho Filho, que era assessor de Nogueira.
Com a prisão de Youssef, em março de 2014, faltaram R$ 600 mil para fechar a conta. O dinheiro restante teria então sido repassado por meio de um contrato fictício com o escritório de advocacia Hughes & Hughes, no valor de R$ 780 mil. Dessa quantia, ainda teriam que ser abatidos impostos, sobrando R$ 600 mil líquidos. Outra prisão, dessa vez do próprio Pessoa, em novembro de 2014, viria novamente a interromper os pagamentos. No fim, segundo a PF, dos R$ 780 mil, foram pagos R$ 475 mil entre agosto e outubro de 2014.