LONDRES Quem nunca ouviu ou falou a frase “É tão ruim que é bom” quando viu um filme ou programa de TV bem trash? Pela primeira vez, acadêmicos resolveram mergulhar neste fenômeno e publicaram um artigo no jornal “Poetics” nesta semana, intitulado “Gostando de filmes trash: Características fundamentais, posicionamentos e dimensões de respostas experienciais”.
“À primeira vista, parece paradoxal que alguém deliberadamente assista a filmes mal feitos, embaraçosos e até mesmo perturbadores, e ter prazer nisso”, escreveu Keyvan Sarkhosh, pós-doutorado no Instituto Max Planck de Estéticas Empíricas.
O grupo começou o trabalho buscando determinar exatamente o que faz um filme ser considerado “trash”, com a característica mais citada pelos entrevistados sendo o “custo baixo”. Filmes de terror com orçamento reduzido foram os exemplos mais comuns, provavelmente por serem tão abundantes na indústria.
A chamada visualização irônica é obviamente o que está em jogo aqui, e os pesquisadores descobriram que os cinéfilos são os mais assíduos na arte de assistir a filmes ruins. Nestes casos, o prazer está na análise dos valores de produção, os diálogos e a estrutura do enredo.
“Para estes espectadores, filmes trash aparecem como um desvio interessante em relação ao mainstream”, disse Sarkosh. “Nós estamos lidando nesta pesquisa com uma audiência cujo grau de escolaridade é acima da média, que podem ser descritos como 'onívoros culturais'. Estes espectadores estão interessados em um amplo espectro de arte e mídia através das fronteiras tradicionais da alta cultura e da popular”. Ele explicou ainda que o engajamento de tais cinéfilos na cultura cinematográfica é demonstrado através de discussões destes filmes em blogs e fóruns.
Agora, só falta estudarem os “filmes comuns”, então podemos descobrir por que diabos algumas pessoas assistem aos filmes da franquia “Bourne” 300 vezes.