Cotidiano

Pesquisa conta drama das vítimas de esterilização em massa na Califórnia

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RIO ? Centenas de moradores da Califórnia, que foram esterilizados forçadamente na primeira metade do século passado por causa de leis eugênicas, podem estar vivos e merecem um pedido de desculpas e reparações financeiras, concluiu um estudo liderado pela historiadora Alexandra Minna Stern, da Universidade de Michigan. Segundo suas estimativas, 831 homens e mulheres que passaram pela cirurgia podem estar vivos, com idade média de 88 anos.

A pesquisadora analisou os documentos do governo de Sacramento, capital da Califórnia, que continham cerca de 20 mil recomendações para esterilizações motivadas pela eugenia, com datas entre 1919 e 1952. O que mais chocou Alexandra foi encontrar muitas recomendações para cirurgias em crianças, sendo as mais novas de apenas 7 anos.

? Esse foi um dos mais dramáticos episódios na história do estado e não deve ser esquecido. Cada uma dessas 20 mil pessoas tinha suas individualidades, com sua própria história de vida, amores e paixões ? disse Alexandra, em entrevista à Reuters. ? Elas são pessoas e devem ser tratadas com dignidade.

Uma das recomendações analisadas pela pesquisadora era para Rose Zaballos. Hoje, ela teria 93 anos, mas morreu em 1939, quando tinha apenas 16 anos, numa mesa de operações durante cirurgia de esterilização, contou sua sobrinha, Barbara Swarr. Em entrevista, Barbara descreveu sua tia como ?retardada mental?.

O estado da Califórnia tinha o direito de esterilizar Rose Zaballos por meio de uma lei estadual de 1909 que autorizava cirurgias para conter a reprodução de pacientes que eram julgados como tendo ?doença mental que pode ter sido herdada? e ?era possível de ser transmitida para descendentes?.

De acordo com o estudo, publicado no ?American Journal of Public Health?, o estado da Califórnia executou o mais amplo programa de esterilização em massa dos EUA. A lei vigorou até 1979.

Em 2003, o então governador Gray Davis pediu desculpas públicas pelo programa de esterilização, mas Alexandra acredita que as pessoas que se tornaram incapazes de procriar como resultado da legislação merecem mais que apenas um pedido de desculpas.

? O estado nunca consertou completamente este erro ? disse a pesquisadora, afirmando que a Califórnia deveria seguir os passos da Carolina do Norte e da Virgínia, outros dois estados que tiveram programas do tipo, e oferecer compensação financeira aos afetados.

Na Carolina do Norte, a indenização foi fixada em US$ 20 mil para cada vítima e, na Virgínia, a compensação foi de US$ 25 mil.