RIO – Os primeiros avanços na luta para prevenir o zika começam a emergir, com a
viabilidade de uma vacina tendo sido demonstrada pela primeira vez. Cientistas
brasileiros e americanos testaram com sucesso em animais duas estratégias de
imunização. Publicado na ?Nature?, o estudo é importante porque a vacina é
considerada a única forma realmente eficaz de proteger a população contra uma
epidemia que já se espalha por 61 países. E uma outra vacina, em desenvolvimento
no Instituto Evandro Chagas, em Ananindeua (Pará), deve começar a ser testada em
macacos em novembro.
No estudo relatado na ?Nature?, o grupo integrado por
cientistas da USP e da Universidade de Harvard, nos EUA, testou duas formas de
imunizar camundongos contra o zika. As duas obtiveram 100% de êxito. Isto é, os
roedores não desenvolveram a doença ao serem infectados pelo zika em
laboratório.
O estudo é o primeiro a empregar também a cepa brasileira do zika, originária
do Nordeste. Ela foi isolada de um paciente na Paraíba pelo grupo do virologista
Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas. Zika – 16/06
A primeira forma testada, mais convencional, foi usar o
zika inativado para causar uma resposta do sistema de defesa dos roedores. A
segunda foi obter a mesma resposta com uso de pedaços do material genético do
vírus.
Um dos autores do estudo, Paulo Zanotto, professor do Instituto de Ciências
Biomédicas da USP, diz que a meta era compreender os mecanismos da infecção pelo
zika:
? Embora seja ciência básica, em fase inicial, a pesquisa é importante porque
ainda se sabe pouco sobre os aspectos imunológicos do vírus.
VÍRUS DIFÍCIL DE SER INATIVADO
A primeira técnica oferece a vantagem de ser mais
simples e, por isso, em tese, mais fácil de desenvolver. Esse tipo de vacina
está em uso com sucesso contra a pólio e a encefalite japonesa. Todavia, o zika
não tem se mostrado trivial. Ele não é fácil de inativar, salienta Zanotto.
Tornar um vírus inativo é eliminar sua capacidade de se replicar dentro das
células infectadas. Assim, ele serve para ?ensinar? o sistema imunológico a
reconhecê-lo como invasor e atacá-lo.
Zanotto explica que uma vacina desenvolvida a partir de
pedaços de genes do vírus é vista como mais promissora. Esse imunizante é mais
seguro e não pode causar doença, já que não há vírus nele. É um produto desse
tipo que a equipe de Dan Barouch planeja testar em macacos em Harvard, numa
segunda etapa do trabalho.
Barouch é um dos principais especialistas do mundo em
vacinas contra retrovírus. Seu grupo desenvolveu e testa em pessoas uma vacina
contra o HIV. Como a que se planeja criar contra o zika, ela é genética.
? Nosso grupo da USP focará no conhecimento da
imunologia do zika. Estamos trabalhando agora com uma linhagem do vírus que
isolamos em São Paulo ? diz o pesquisador.
A equipe dele colabora com a do Instituto Butantan, que
também busca criar uma vacina.
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