Toledo – Atrasada, a colheita da soja ainda está no início mas, com base em levantamentos preliminares feitos por cooperativas, integradoras e produtores obtidos pelo Jornal O Paraná, a quebra já está estimada em 15% na região oeste do Paraná.
Se esses números forem confirmados até o fim da colheita, que só deve ocorrer em março, a produção deve ficar em torno de 3,4 milhões de toneladas. No início do cultivo de quase 1 milhão de hectares, a expectativa era a colheita de 4 milhões de toneladas.
Essas 600 mil toneladas que ficarão pelo caminho são resultado de muitas interferências climáticas. Essa perda representa cerca de R$ 650 milhões, considerando o preço de balcão da saca da oleaginosa em R$ 65 – valor médio em algumas cidades ontem para saca de 60 quilos.
Para o especialista de mercado e agrônomo José Augusto de Souza, é prematuro promover alardes acerca dos números, até porque, mesmo confirmados, devem ser vistos como “redução de ganhos”. “Esperava-se um volume e pode ser colhido abaixo dele e isso não representa necessariamente um prejuízo, mas o sojicultor vai ganhar menos. É como você viajar para a praia por sete dias e esperar que dê sol o tempo todo, pode ser que ocorra, mas pode ser que chova em um, dois dias. No ano passado tivemos uma safra excepcional, colhemos de oito a dez sacas além do convencional por hectare, então não podemos balizar por ela em um ano atípico considerado o melhor da história”, reforça.
Ele explica que quem arca com o ganho menor é o produtor. “Quem produz é o agricultor, então se há mais lucro ou prejuízo, é ele quem vai arcar com isso. O seguro não é recomendado a casos como estamos vendo na região. Ele deve ser acionado em situações de perdas extremas, como o apodrecimento total de lavouras ou chuvas de granizo que acabem com o cultivo todo. Nesse caso, o produtor terá que comprovar que a produtividade naquela área foi maior nos últimos três anos se comparada à que está sendo colhida agora”.
Novo boletim
No Núcleo Regional da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) de Cascavel, o Deral (Departamento de Economia Rural) calcula que pelo menos 14% das áreas tenham sido colhidas até o momento. O técnico José Pértille reforça que os dados oficiais ainda não revelam as perdas e que este boletim estadual só será concluído na segunda-feira, mas o que se pode antecipar é que a região com maior retração na produtividade é à beira lago de Itaipu. “Os dados serão finalizados na segunda-feira. A tendência é para que nos próximos dias os produtores intensifiquem a colheita”, considera.
Já no Núcleo Regional de Toledo a agrônoma Jean Marie Ferrarine informa que a colheita começa a se intensificar agora. Com menos de 2% das lavouras removidas do campo, o que se pode precisar até o momento por lá é que pouquíssimas áreas foram cultivadas com o milho safrinha, plantio direto realizado imediatamente após a colheita da soja.
Queda não compromete abastecimento
Apesar do cenário que se desenha, a tendência de quebra na safra de soja não coloca em risco o abastecimento interno. Segundo o especialista de mercado José Augusto de Souza, o que há nos silos e armazéns de safras passadas poderia abastecer, muito provavelmente, por dois anos o mercado interno.
Mas então como justificar o aumento, de quarta para quinta-feira, de quase R$ 3 a saca, quase 5%? Mera especulação de mercado. Entre as possíveis razões está o fato de os produtores não estarem liberando soja para a exportação por conta do atraso na colheita. Desta forma, quem tem estoque espera justamente por essa reação de mercado para negociar. “Tem produtor recebendo um valor expressivo em prêmio. O valor de balcão não significa o valor que o produtor recebe. Tem quem esteja vendando hoje a R$ 74 por saca. Não tem soja no corredor de exportação, há navios parados no porto, mas não é por falta de produto”, reforçou.
E essa ansiedade vivida pelo mercado às vésperas da intensificação da colheita também servirá como um termômetro para calcular a dimensão da renda no campo. “Se a quebra for acentuada e o valor da saca subir, o produtor vai colher menos, mas vai ganhar mais pela valorização. Se a quebra não se confirmar elevada e os preços se mantiverem, ele poderá ter ganhos maiores pelo aumento da produção. Isso ainda precisa ser analisado quanto à receita final. Tem o cultivo argentino que precisa ser analisado. Então um panorama mais preciso só será possível em três ou quatro meses”, seguiu.
Plantio do milho
No Núcleo Regional de Cascavel, onde o zoneamento do milho safrinha foi prorrogado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento até o fim deste mês, estima-se que neste momento tenham sido cultivadas 25% da área.
Segundo o técnico José Pértille, dos 374 mil plantados em 2017 deverão baixar para 300 mil neste ano retração de 20% por conta do atraso no ciclo da soja.
Já na regional de Toledo a redução de área promete ser bem menor, apenas 4%, mas praticamente nada foi cultivado até o momento. Segundo o Deral, em 2017 foram 445 mil hectares destinados ao cereal, neste ano se espera 427.473.