Cotidiano

Paulo Roberto Costa prepara livro sobre a Lava-Jato

2016 927148386-201608011516599973.jpg_20160801.jpgRIO – Primeiro delator do esquema de corrupção na Petrobras, o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa tem gastado o tempo livre escrevendo um livro que trará sua visão sobre a Lava-Jato. É por isso que anda contabilizando o número de depoimentos que já deu à Polícia Federal, Ministério Público Federal (MPF) e Justiça Federal. Já foram 199 no total. O último deles foi na segunda-feira, quando foi ouvido como testemunha num processo contra o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com quem ficou frente a frente durante a oitiva.

O GLOBO conversou com Paulo Roberto Costa e com o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró enquanto eles esperavam para entrar na sala de audiências. Costa e Cerveró se cumprimentaram assim que se encontraram no corredor do prédio da Justiça Federal do Rio. O lobista Fernando Soares, o Baiano, chegou depois.

? Vão ser 22 capítulos. Agora, estou escrevendo o décimo ? disse Paulo Roberto Costa, afirmando ainda que está em busca de uma editora.

Costa contou que, apesar de estar em regime semiaberto, não tem saído muito de casa. Vez ou outra, faz coisas rotineiras, como ir à farmácia. Também já conseguiu renovar a carteira de motorista e veio de Itaipava ao Rio dirigindo o próprio carro. Não conseguiu almoçar e acabou comendo um lanche na lanchonete da Justiça Federal. De boné e óculos escuros, não foi reconhecido.

O ex-diretor disse nunca ter imaginado que a Lava-Jato tomaria a dimensão que tomou:

? Acho que ninguém imaginava.

Já Cerveró, que está em prisão domiciliar e usa tornozeleira eletrônica, emocionou-se ao lembrar que há oito meses não vê a única neta, que foi morar no exterior com o pai dela, Bernardo Cerveró. O filho de Cerveró gravou o senador cassado Delcídio Amaral incentivando a fuga do ex-diretor da Petrobras do país. Perguntado se ficou orgulhoso da atitude do filho, Cerveró não titubeou.

? Claro! Até o (juiz Sérgio) Moro elogiou ? disse.

O ex-diretor da Petrobras contou que, enquanto esteve preso, ocupou todas as celas da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde ficavam outros investigados.

Mais calado, Baiano contou que resolveu fazer a delação premiada por causa da família e também por conta do que a imprensa estava publicando. O lobista disse que foram feitos tantos perfis na imprensa que nem ele mesmo sabe qual perfil está valendo agora. Em prisão domiciliar, Baiano disse que tem passado o tempo lendo. Está com um livro sobre Martin Luther King.

Os três delatores foram ouvidos separadamente, e um não teve acesso às informações prestadas pelo outro. Costa e Cerveró falaram por cerca de uma hora. Baiano, o último a ser ouvido, depôs durante três horas e meia no processo contra Cunha.