Cotidiano

Paraná abre consulta para lista de aves ameaçadas

Foz do Iguaçu – A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos e o IAP (Instituto Ambiental do Paraná), em parceria com o Parque das Aves, lançou ontem consulta pública para participação popular no processo de coleta de informações sobre aves nativas ameaçadas de extinção.

Essa é a primeira vez que o Estado promove uma consulta para a revisão da lista aberta a pessoas ligadas ao assunto, além de cientistas e estudiosos da temática que são sempre consultados.

Para o secretário estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Antonio Carlos Bonetti, é preciso conhecer para preservar. “Para que as pessoas possam adotar a preservação e conservação da natureza como hábito é preciso informação, saber da importância da biodiversidade para os ecossistemas, conhecer a fauna dos biomas em que estão inseridas, bem como as espécies mais ameaçadas, justamente o objetivo da Secretaria com a edição da lista vermelha de aves”, disse Bonetti.

Consulta pública

Especialistas e observadores de aves poderão enviar suas contribuições e registros do aparecimento das espécies em cada região através do site www.listavermelha.com.br. Essas informações serão avaliadas e validadas em um workshop que contará com a participação de especialistas (ornitólogos) com experiência na construção das listas de espécies ameaçadas no Estado.

De acordo com Carmel Croukamp, diretora do Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, a proposta é promover a ciência cidadã: “Abrir para a sociedade a possibilidade de contribuir com o envio de informações sobre as aves paranaenses promove a inclusão social no processo de construção da lista, assim como aumenta a conscientização sobre o tema e a importância desse processo”.

Após a composição e a publicação da nova Lista Vermelha de Aves Ameaçadas de Extinção do Paraná, o site irá disponibilizar um banco de dados criado a partir das contribuições compiladas, que poderá ser consultado por qualquer pessoa interessada. A ferramenta ficará ativa por cinco anos, quando a lista deverá ser revisada novamente, de acordo com a Portaria 43/2014 do Ministério do Meio Ambiente.

Na prática

A consulta em uma plataforma aberta e livre na internet é uma das etapas para a construção dessa lista. Após o encerramento dessa primeira fase, pesquisadores receberão todas as informações por meio do site e classificarão as espécies em categorias de ameaça, de acordo com critérios técnicos seguindo metodologia internacional. Em seguida, os resultados serão validados em um workshop.

A etapa final será a publicação da Lista Vermelha de Espécies de Aves Ameaçadas no Paraná, sob a forma de um instrumento normativo que confere valor legal à lista.

Todo o processo será mediado e executado pela Hori Consultoria Ambiental, coordenada por Alberto Urben Filho e Fernando Costa Straube, ornitólogos paranaenses com experiência em processos de elaboração de listas vermelhas.

Lista vermelha

As listas vermelhas de espécies ameaçadas de extinção são instrumentos de grande importância para a conservação da biodiversidade. Elas têm o objetivo de identificar as espécies em risco de desaparecimento e informar o grau de ameaça, além de constituir base legal para promover políticas públicas de proteção às espécies ameaçadas.

Ao estabelecer um ranking das aves que mais precisam de proteção, a lista fornece subsídios para que as intervenções do poder público sejam mais efetivas na conservação de cada espécie. “Teremos à disposição material científico que servirá de base para criação de políticas públicas direcionadas à implementação de programas de proteção às espécies, bem como para as ações voltadas à sensibilização da sociedade sobre a atuação responsável na conservação da fauna paranaense”, destaca a coordenadora de Biodiversidade e Florestas da Secretaria, Sueli Ota.

As Listas Vermelhas foram criadas em 1964 pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN – International Union for Conservation of Nature). O Paraná foi o primeiro estado brasileiro a contar com legislação destinada à proteção da fauna e da flora (Lei 11.967 de 17 de fevereiro de 1995), que resultou na publicação da primeira Lista Vermelha de Animais Ameaçados de Extinção no Estado do Paraná, com 117 espécies de aves listadas.

Essa lista foi revisada pela primeira vez em 2004 com a publicação do Anexo II do Decreto Estadual no 3.148/2004, a qual apontou a ocorrência de 169 espécies de aves sob algum status de ameaça.

Reprodução para conservação

O Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, contribui com vários Planos de Ação Nacional e projetos de conservação reproduzindo espécies para conservação e pesquisa em manejo reprodutivo. A lista inclui a arara-azul-de-lear, o cardeal-amarelo e a jacutinga. Já obteve sucesso na reprodução de 20 espécies de aves ameaçadas. Isso é muito importante, pois desenvolver e aprimorar constantemente as técnicas de reprodução sob cuidados humanos é fundamental para um programa de reprodução para a conservação.

O mutum-de-alagoas (Pauxi mitu) está extinto na natureza desde a década de 1970 e sua recuperação depende do sucesso da reprodução em cativeiro. Existem atualmente cerca de 250 dessas aves no mundo. O Parque das Aves integra o programa de conservação do mutum-de-alagoas, dentro do Plano de Ação Nacional para a Conservação do Mutum-de-alagoas, do ICMBio, cujo alvo é reproduzir a espécie e durante 2018 reintroduzi-la em Alagoas.

Em junho de 2015, o Parque das Aves recebeu os primeiros dez casais de mutuns-de-alagoas e desde então já nasceram mais de 20 filhotes. Além de ser o primeiro zoológico no mundo a reproduzir, manter e apresentar ao público a espécie, o Parque das Aves contribuiu para o Plano Nacional não só reproduzindo as aves, mas também refinando os protocolos de manejo, disponibilizando sua expertise em reprodução e trabalhando para conscientizar seus visitantes sobre a espécie.

Espécies ameaçadas reproduzidas:
Jacutinga (Aburria jacutinga)
Papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis)
Papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea)
Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus)
Jandaia-amarela (Aratinga solstitialis)
Grou-coroado (Balearica regulorum)
Pomba-de-nicobar (Caloenas nicobarica)
Mutum-do-sudeste (Crax blumenbachii)
Mutum-de-penacho (Crax fasciolata)
Gralha-azul (Cyanocorax caeruleus)
Ararajuba (Guaruba guarouba)
Mutum-do-nordeste (Pauxi mitu)
Flamingo-chileno (Phoenicopterus chilensis)
Marianinha-de-cabeça-amarela (Pionites leucogaster)
Ararinha-maracanã (Primolius maracana)
Papagaio-do-congo (Psittacus erithacus)
Araçari-banana (Pteroglossus bailloni)
Periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus)
Ema (Rhea americana)
Macuco (Tinamus solitarius)