Cotidiano

Para burlar criptografia, polícia infiltrou agentes ou apreendeu celular

Moxie Marlinspike, criador da criptografia ponta a ponta implantada no WhatsApp, explicou a outra forma como as conversas podem ter sido acessadas

RIO — Durante coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira, sobre a prisão de dez brasileiros suspeitos de conexão com o Estado Islâmico, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, informou que parte das investigações foram realizadas pelos aplicativos de mensagens Telegram e WhatsApp. Contudo, os dois programas possuem proteção criptográfica para que o conteúdo de mensagens não possa ser captado nem mesmo pelas mais modernas técnicas de monitoramento. Questionado sobre o fato, Moraes se negou a dar detalhes, dizendo apenas que “as investigações têm outros meios”.

Para especialistas, um dos caminhos seria infiltrar agentes da Polícia Federal em grupos de discussão nas duas plataformas. Tanto o Telegram, como o WhatsApp, possuem ferramentas que permitem conversas entre vários usuários. No Telegram, alguns são abertos e podem ser encontrados em buscas na internet. Já no WhatsApp, a inclusão de novos membros deve ser feita por convite dos moderadores.

Em entrevista recente ao GLOBO, Moxie Marlinspike, criador da criptografia ponta a ponta implantada no WhatsApp, explicou a outra forma como as conversas podem ter sido acessadas. A tecnologia de segurança impede que o conteúdo das mensagens sejam lidas por qualquer pessoa, senão o destinatário. Nem mesmo o WhatsApp armazena essa informação, mas ela fica guardada nos celulares dos usuários.

— Uma coisa que se pode imaginar é que a polícia tenha tido acesso ao celular de alguma pessoa envolvida com o grupo. No aparelho, as mensagens não ficam protegidas pela criptografia — opina Carlos Affonso Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

Na última terça-feira, uma juíza da 2ª Vara Criminal de Duque da Caxias, no Rio de Janeiro, determinou o bloqueio do WhatsApp em todo o país alegando que a companhia deveria cooperar com investigação em andamento, pedindo que as mensagens fossem capturadas em tempo real, antes de serem criptografadas. Em maio último e em dezembro do ano passado, decisões judiciais tiraram temporariamente o serviço do ar sob alegações semelhantes.

— As duas histórias estão relacionadas — diz Souza. — Há dois dias, nós dizíamos que a quebra da criptografia era uma péssima ideia. Agora, essas prisões mostram que existem outras formas de investigação policial que levam ao sucesso da operação.