CARACAS ? Com ruas bloqueadas e estações de metrô fechadas, a oposição venezuelana começa a se mobilizar nesta sexta-feira em uma nova marcha para exigir a autorização da coleta de assinaturas visando um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro. Responsável pelo processo, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), no entanto, suspendeu as atividades no país.
Em meio aos protestos nacionais, a autoridade eleitoral decidiu adiar, alegando ameaças, o anúncio que deveria realizar nesta mesma sexta-feira sobre a data e as condições para a coleta das quatro milhões de assinaturas (20% do total de eleitores) necessárias para a convocação às urnas.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) alegou que os protestos da oposição colocam em risco seus funcionários e disse que retomará a análise deste tema sensível na próxima segunda-feira, embora não tenha especificado se neste dia fará um pronunciamento definitivo.
O CNE ?decidiu isto (…) diante da convocação de protestos para os arredores das sedes em todo o país, que têm sido atacadas em diversas oportunidades, desde abril deste ano?.
Segundo o Conselho Eleitoral, na quarta-feira foi iniciada ?a revisão do processo de recolhimento das assinaturas de 20% do total de eleitores para a possível ativação do referendo revogatório presidencial, que deveria terminar nesta sexta-feira?, mas diante do anúncio da mobilização opositora, o tema só será retomado na segunda-feira.
O presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos, denunciou o governo por dificultar a circulação dos cidadãos que vão participar da marcha. O opositor culpou o Executivo por fechar estradas de acesso a Caracas e causar um atraso intencional no metrô de Caracas para evitar a manifestação.
?CÚPULA DO POVO?
Os adversários de Maduro planejam iniciar o dia de mobilizações com um ?panelaço?, no que chamaram de ?cúpula do povo contra a fome e pelo revogatório?, em alusão à Cúpula de Países Não Alinhados (NOAL), realizada na Isla de Margarita (Norte da Venezuela).
? Será a anti-cúpula, a cúpula do povo em resposta a este esbanjamento (do NOAL) e exigindo o estabelecimento com clareza das condições para a coleta de assinaturas ? disse na quinta-feira Jesús Torrealba, secretário da coalizão Mesa de la Unidad Democrática (MUD).
Antes da divulgação da decisão do CNE, Torrrealba havia antecipado que a falta de definições em torno da ativação do referendo motivaria ainda mais os protestos.
? Se não houver resposta (do CNE) também será um motivo para protestar (…) porque o silêncio é um desrespeito com o direito do povo venezuelano de construir uma solução pacífica, eleitoral, constitucional e democrática a este drama que estamos vivendo ? acrescentou Torrealba em uma entrevista coletiva.
Afetada pela queda das receitas do petróleo, a Venezuela sofre uma crise econômica refletida em uma escassez de 80% dos alimentos e remédios, segundo estudos privados, e a inflação mais alta do mundo, que o FMI projeta em 720% para 2016.
As mobilizações serão realizadas após dois dias de protesto, em 1 e 7 de setembro, para exigir o revogatório. O primeiro reuniu um milhão de pessoas em Caracas, segundo a MUD, embora o governo afirme que compareceram apenas dezenas de milhares, e que neste mesmo dia mobilizou meio milhão de chavistas.
De qualquer forma, foram as maiores manifestações desde as de 2014 contra Maduro, que deixaram 43 mortos.
A de semana passada reuniu algumas milhares, seguindo a linha das convocações anteriores.