RIO – A ocupação de pelo menos cinco unidades do Colégio Pedro II ? que deve ter um capítulo decisivo na quarta-feira com uma audiência de conciliação na Justiça Federal para analisar a continuidade do movimento ? tem se tornado um palco de extremos políticos. De um lado, em apoio ao protesto, estão nomes como a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). De outro, pela desocupação, personagens como o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), da bancada evangélica na Câmara, além da família Bolsonaro. Até descendentes da Família Real, que defendem a volta da monarquia, entraram na discussão e participarão de uma passeata nesta terça-feira, em Copacabana, ao lado de pais que querem que as escolas retomem suas rotinas normais de aulas. Eles falam na preservação da memória de Dom Pedro II.
O episódio mais recente dessa disputa ocorreu na manhã de sábado, quando Sóstenes e Jandira estiveram no mesmo horário na unidade da Tijuca do Pedro II. Ambos reclamaram que tiveram dificuldades para entrar, mas acabaram chegando em consenso com pais e alunos e visitaram as instalações. A polêmica ganhou força porque, ao longo da semana passada, havia sido convocado um debate pelos estudantes que ocupam a escola sobre a PEC 241, do teto de gastos, com a presença apenas de Jandira e Lindbergh.
? Quando soube disso (do debate) através de pais de alunos, resolvi ir lá conferir. Porque uma discussão com a presença só do Lindbergh e da Jandira não seria um debate, seria uma palestra. Já que era um evento aberto, não vi problemas em estarmos lá para fazer um contraponto ? afirmou o deputado Sóstenes Cavalcante.
O debate foi anunciado em redes sociais, mas acabou sendo cancelado. Jandira disse que a suspensão do evento em nada teve a ver com a presença de Sóstenes na unidade, mas também defendeu o direito de os estudantes chamarem quem eles quiserem para participar das discussões.
? O evento foi cancelado porque o senador Lindbergh teve que fazer uma viagem ao México. Mas aquilo não seria um debate eleitoral, onde necessariamente dois lados distintos precisam estar representados no mesmo momento. Ele (Sóstenes) deveria ter entrado em contato com os estudantes e negociado uma data para falar ? comentou a deputada.
A celeuma do sábado gerou até uma nota oficial do reitor do Pedro II, Oscar Halac, divulgada ontem na internet. No texto, Halac reforçou a preocupação com a integridade física dos alunos e disse ter sido acertada a decisão de cancelar o debate. ?Não é o fórum adequado e para isto há o Congresso Nacional, as Câmaras de Vereadores e as Assembleias Legislativas?.
NOVOS PROTESTOS
Junto com Sóstenes Cavalcante, também esteve no Pedro II da Tijuca o vereador eleito por São Paulo Fernando Holiday (DEM), ligado ao MBL (Movimento Brasil Livre), que chegou a ser xingado por alguns ocupantes da unidade, mas acabou participando da visita.
Nesta terça-feira, em Copacabana, o protesto pela desocupação reunirá políticos de direita e tem como uma de suas principais bandeiras o fim da ideologia de gênero:
? Respeito a ocupação, mas há uma motivação estritamente política por trás dela. Todos os ocupantes têm alinhamento ideológico à esquerda ? afirma Cavalcante.
Amanhã, na Cinelândia, haverá um protesto a favor das ocupações. Jandira Feghali admite que há uma polarização:
? Eles têm um programa conservador, contra avanços civilizatórios e de direitos humanos. Não dá nem mais para escrever gênero em qualquer contexto, que virou um palavrão. Querem criminalizar a esquerda e os movimentos sociais.