Wired RIO ? Pintar a parede da própria casa, fazer um conserto no carro ou montar um robô. Todas essas tarefas podem ser realizadas por qualquer pessoa, graças a um movimento que vem se alastrando por todo o mundo. A cultura maker surgiu na década de 1980, com as bandas de punk rock americanas que gravavam e distribuíam suas próprias fitas e produziam os próprios shows. Desde então, a ideia do DIY (?Do It Yourself?, ou faça você mesmo) se espalhou por novas áreas e, com a internet, ganhou o mundo.
– A estimativa é que mais de 135 milhões de americanos sejam adeptos do DIY. Essa cultura sempre aparece no cinema, quando um casal se muda e pinta as paredes da casa – afirmou Manoel Lemos, sócio do fundo de investimentos Redpoint, no segundo e último dia do Wired Festival Brasil. – A cultura maker se espalhou para todas as áreas. As pessoas consertam o chuveiro, personalizam uma roupa ou montam um avião, por que não?
A internet foi uma das molas propulsoras deste movimento. A própria essência da web, de colaboração, do código aberto e da reutilização, combina com os aspectos comportamentais do movimento maker.
No campo da tecnologia, esse movimento se popularizou primeiro com o software livre, mas a popularização de novas ferramentas permitiu a criação de hardwares livres. Hoje, qualquer pessoa pode montar um projeto no computador e, com uma impressora 3D, construir um produto.
Exemplo disso é a start-up Pebble, que criou o primeiro smartwatch do mercado. Desde o surgimento da empresa, por meio de financiamento coletivo, ela se aproveitou desse novo cenário. Nesta semana, surgiram rumores de que a companhia está sendo adquirida por US$ 40 milhões pela Fitbit.
– Há alguns anos, a gente achava que seria impossível pensar em hardware livre. Produzir um software era fácil, só precisava de um computador e outros softwares, mas o hardware exige ferramentas que eram pouco acessíveis ? disse Lemos. ? Antes, ninguém ia produzir nada que não fosse para as massas. No movimento maker, qualquer pessoa pode produzir qualquer coisa e distribuir em pequena escala.
GENÉTICA, CULINÁRIA E CERVEJARIAS
E a indústria da computação tem o movimento maker em seu DNA. Foi na garagem de casa, de forma rudimentar, que surgiram os primeiros computadores pessoais, com Steve Jobs e Steve Wozniak, cofundadores da Apple.
– Hoje, o movimento maker está em todas as áreas. Na robótica, na culinária, na moda, na marcenaria e nas cervejarias. Até na genética. Antes, os instrumentos de manipulação genética eram caros, e hoje é possível montar um laboratório caseiro. A indústria de drones se desenvolveu dentro do movimento maker ? afirmou Lemos.
A base de dados da AngelList, que lista start-ups em busca de investimentos nos EUA, tem 5.449 empresas de hardware de tecnologia. Esse número é maior que o número total de start-ups cadastradas na Associação Brasileira de Start-ups.
Para Lemos, o movimento maker tem potencial para avançar também no país. Em 2009, foi criado o primeiro Hackerspace do Brasil, e, no ano passado, já existiam 51 laboratórios desse tipo.
– O brasileiro tem vocação para o movimento maker ? disse Lemos. ? Isso faz parte da nossa cultura, do nosso jeitinho. Nós temos a gambiarra, o jeito para resolver problemas com poucos recursos.
O Wired Festival Brasil é uma realização da Edições Globo Condé Nast e do jornal O GLOBO, apresentado pela Prefeitura do Rio e Rio Eventos, com patrocínio da Nextel e do Banco Original, apoio do SENAI, C&A e Spotify, co curadoria da FLAGCX e produção da SRCOM. O evento acontece nesta sexta-feira e sábado no Armazém Utopia, na Zona Portuária do Rio.