RIO ? Uma das principais publicações do mundo, o jornal americano ?New York Times? reservou um espaço em sua seção editorial desta quinta-feira para discutir a situação política brasileira. No artigo ?A presidente brasileira deposta?, o jornal desenhou um desfecho controverso para o processo de impeachment, reproduzindo trechos do discurso de Dilma Rousseff em que ela denuncia seus oponentes, afirmando, porém, que a situação é mais complexa do que reconhece a presidente deposta.
Classificando a fala da ex-presidente como ?dura?, o texto destacou a trajetória do PT no poder, da popularidade durante o governo de Lula à crise enfrentada por sua sucessora:
?A saída de Dilma marca o fim de um transformador período de 13 anos liderado pelo esquerdista Partido dos Trabalhadores, que usou receitas públicas geradas pelo boom de commodities para tirar milhões da pobreza mas perdeu apoio quando a economia entrou em recessão nos anos recentes?.
O jornal ainda fez menção à narrativa de ?golpe? encampada por Dilma, lembrando que muitos políticos que votaram pela cassação da presidente estão sendo investigados por corrupção, porém não esqueceu a indicação de Lula ao ministério da Casa Civil, pouco depois de o ex-presidente ser conduzido coercitivamente a depor para o Ministério Público de São Paulo:
?Será uma vergonha se a História mostrar que ela estava certa. Mas o legado de Dilma Rousseff e os eventos que levaram a sua queda são mais complexos do que admite. Dilma se tornou extremamente impopular com a recessão econômica e não conseguiu criar a coalização necessária governar de forma eficaz. Quando a investigação sobre corrupção se aproximou de seu antecessor na Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, ela abusou de sua autoridade ao lhe ofereceu um cargo no governo, para protegê-lo do Ministério Público.?
Se o artigo começa lembrando que apenas dois presidentes brasileiros conduziram seus mandatos até o final desde a redemocratização do país, o jornal termina afirmando que o presidente empossado na quarta-feira não deve se colocar entre as investigações da Lava-Jato, rejeitando ?iniciativas do legislativo com o objetivo de minar o trabalho dos promotores?. O ?New York Times? ainda aconselha Michel Temer a respeitar a plataforma aprovada pelos brasileiros no pleito de 2014, tomando cuidado ao realizar os cortes do ajuste fiscal e ao reduzir o tamanho de programas sociais.