RIO ? A Nasa lançou nesta quarta-feira um projeto de ciência-cidadã em que pede a ajuda do público para tentar identificar sinais de um possível e afastado nono planeta no Sistema Solar, assim como de outros mundos desgarrados conhecidos como anãs marrons na nossa vizinhança cósmica. Para isso, a agência espacial americana patrocinou a criação de um site, Backyard Worlds: Planet 9, em que foram colocadas milhões de imagens feitas pelo seu observatório espacial infravermelho Wise.
– A distância entre Netuno e Proxima Centauri, a estrela mais perto (do Sistema Solar) é de pouco mais de quatro anos-luz, e muito deste vasto território é inexplorado ? lembra Marc Kuchner, astrofísico do Centro de Voo Espacial Goddard da Nasa e líder da equipe de pesquisadores que espera usar as indicações do público para identificar novos corpos celestes. – E como há tão pouca luz do Sol, mesmo grandes objetos nesta região brilham muito pouco em luz visível. Mas ao observar em infravermelho, o Wise talvez tenha feito imagens de objetos que de outra forma não veríamos.
Lançado em dezembro de 2009, o Wise fez um levantamento completo do céu entre 2010 e 2011, produzindo o mais detalhado mapa em comprimentos de onda de infravermelho médio disponível atualmente. Com o fim da sua missão primária, o observatório espacial foi desligado em 2011, mas acabou reativado em 2013 em nova missão, batizada NeoWise, desenhada para ajudar a Nasa a encontrar objetos potencialmente perigosos que passam perto da Terra, conhecidos pela sigla em inglês NEOs, em geral asteroides e cometas que cruzam a órbita de nosso planeta.
Antiga suspeita de astrônomos e leigos, a existência de um grande planeta na imensidão do espaço além de Netuno, apelidado ?Planeta X? ou, mais recentemente, ?Planeta 9?, ganhou força nos últimos anos devido a cálculos de cientistas com base nas órbitas de objetos conhecidos nesta região, chamada Cinturão de Kuiper, indicando que elas estariam sendo afetadas por algum corpo maciço. Um dos primeiros a fazer estas contas foi o brasileiro Rodney Gomes, do Observatório Nacional, que apresentou seus resultados em 2012 durante reunião da Sociedade Americana de Astronomia.
A busca pelo Planeta X, no entanto, também pode revelar objetos mais distantes no espaço interestelar. Chamados anãs marrons, eles são como ?estrelas fracassadas? que não acumularam material suficiente para dar início às reações de fusão nuclear em seus centros, como fazem as estrelas de fato.
– As anãs marrons se formam como estrelas mas evoluem como planetas, e as mais frias são muito parecidas como Júpiter ? explica Jackie Faherty, astrônoma do Museu Americano de História Natural, em Nova York. – Ao usar o ?Backyard Worlds: Planet 9?, o público pode nos ajudar a descobrir mais destes estranhos mundos desgarrados.
Para ajudar a identificar potenciais planetas e anãs marrons, os participantes do projeto verão sequências de imagens da mesma faixa do céu feitas pelo Wise em diferentes ocasiões. Com isso, espera-se que fiquem evidentes pontos de luz que se moveram no período entre as observações. Objetos dentro do Sistema Solar, como o possível Planeta X, parecerão se mover mais rápido, enquanto os mais distantes pouco mudarão de posição. A ajuda de voluntários humanos é fundamental neste processo porque os computadores usados em buscas automáticas são frequentemente ?enganados? pelos chamados ?artefatos? nas imagens, picos de brilho e outras variações causadas pela luz espalhada pelos próprios instrumentos do Wise em seu interior.
– O ?Backyard Worlds: Planet 9? tem o potencial de destravar descobertas que só acontecem uma vez a cada século, e é excitante pensar que elas podem ser vistas primeiro por um cientista-cidadão ? destaca Aaron Meisner, também integrante da equipe de buscas e pesquisador da Universidade da Califórnia em Berkeley especializado na análise de imagens do Wise.