SÃO PAULO – O primeiro ato de campanha da senadora Marta Suplicy (PMDB) à Prefeitura de São Paulo a relembrou de que ela ainda tem um grande passado pela frente. O fato de ter deixado o PT surgiu como uma questão dos eleitores. Ao chegar ao CEU Jambeiro, em Guaianases, na Zona Leste, o primeiro complexo educacional feito por ela quando Prefeita (2000-2004) foi recepcionada por crianças aos gritos de “Ô Dilmaaaa”, “Ô Dilmaaaa”, em referência à presidente petista afastada de quem Marta foi ministra.
A senadora deixou claro que irá disputar a autoria de programas como Bilhete Único e CEUs, desqualificando o argumento do atual prefeito petista, Fernando Haddad, de que as obras de sua gestão foram feitas pelo PT, não por ela (ela foi prefeita da cidade entre 2001 e 2004). Em meio à multidão, Marta gritou:
? Quem fez o CEU?
? Marta! ? gritaram, em coro, os militantes.
A militância de apoio à candidata, de cerca de 100 pessoas, foi trazida pelo ex-deputado estadual Luiz Moura, expulso em 2014 do PT depois de ter sido flagrado pela polícia em uma reunião de líderes da facção criminosa que atua nos presídios de São Paulo. Moura, que qualifica as acusações como “balela”, ainda é investigado. Sempre ao lado de Marta em caminhada na área Comercial do bairro da zona leste, ele disse ser Coordenador informal da Campanha da ex-prefeita na região. Moura é atualmente filiado ao PDT, que compõe a coligação do atual prefeito Fernando Haddad (PT).
Perguntada se seria uma preocupação sua explicar ao eleitor a troca de legendas, Marta disse:
? Zero preocupação. O PT é coisa do passado. Já faz um ano e meio, os valores com os quais o PT foi construído são Meus, pode perguntar pra qualquer um aqui se é uma preocupação. Fica bem à vontade para perguntar aqui. Isso é uma preocupação de alguns ? afirmou, em referência ao oponente tucano João Doria, que disse hoje sobre a senadora que “uma vez PT sempre PT”.
Apesar da resposta de Marta, sua situação ainda não parece clara para os eleitores. Uma militante convidada por Moura para o ato afirmou não estar convencida sobre a troca de partidos.
? Eu nunca votei na Marta nem no PT, sempre fui PMDB. Eles acabaram com a gente. Tenho desconfiança com a Marta ?disse, pedindo para não ser identificada.
Entre selfies, beijos, abraços e aperto de mão, Marta prometeu a comerciantes e moradores fortalecer marcas de sua gestão, como o transporte escolar “vai e volta”, e dar atenção à educação e à saúde. Impecavelmente maquiada e usando camisa branca, calça jeans preta e tênis, ouviu elogios à sua beleza. Simpática, não deixou de dar atenção a todos que a interpelavam no corpo a corpo de cerca de meia hora.
O entusiasmo da senadora era tanto que em uma loja de roupas quase cumprimentou um manequim.
Em conversa com um camelô vendedor de bíblias, ela quis saber como estava a questão do emprego. João Batista, no entanto, demonstrou pouco interesse na conversa.
? Eu votei nela, sempre votei no PT mas agora estou desacreditado da política ? disse, ficando surpreso ao saber que a senadora já não é mais petista.
Outro eleitor provocou mal-estar ao chamá-la de traidora por ter ido para o PMDB.
? E o Haddad fez o quê? ? respondeu ela, indignada.