Cotidiano

Marina Ribas abre a sua casa e conta a sua maneira de decorar

ribas3.jpgHá dois anos, a designer Marina Ribas encarou o seu novo apartamento: um espaço vazio, aberto e pronto para receber uma nova história. Um grande cubo branco (com vista para a Lagoa e o verde, e ainda com pátios e varandas) era o lugar perfeito para aplicar a sua arquitetura emocional, conceito que criou e que leva para a decoração a intimidade e as vivências do morador.

Hoje, o apartamento em que mora com o marido Fred Gelli, também designer, é um reflexo das histórias dos dois, harmonizado por uma estética afinada. É aconchegante e cool, daqueles que dá vontade de tirar o sapato e se esparramar. Tem um mix de móveis de design contemporâneo, memorabília, obras de arte assinadas por Marina (como as instalações com cadeiras da série ?Intrestrutura?), miudezas coletadas em viagens, instrumentos musicais, um altar budista e muitas plantas no teto, no chão, na parede.

? Trouxemos nossas bagagens, nossos acervos de vida, nossos afetos. E isso é o que faz com que os ambientes nos tragam felicidade. A nossa casa tem que nos despertar bem-estar ? conta Marina, e continua. ? Este apartamento é uma soma de vidas, da minha e a do Fred, pessoas com muitas histórias e móveis. O principal para dar certo foi oferecer liberdade e espaço para o outro, além da aceitação das necessidades e dos gostos individuais. Não lutamos contra o acervo do outro, adicionamos, combinamos, juntamos. Aceitamos as histórias anteriores e criamos uma nova, resignificando as coisas.

ribas4.jpgAlém de sofás, poltronas de Sergio Rodrigues e Charles Eames e ainda uma cadeira-arte Red and Blue de Gerrit Thomas Rietveld, há três camas na sala de estar. As peças fazem parte da trajetória do casal, itens que eles não queriam dispensar. A solução com um quê inusitado, porém certeira no quesito ?sinta-se em casa?, foi pensada porque Marina e Fred tinham tanto carinho por elas que passá-las adiante não era uma possibilidade.

? A minha cama de solteira, que amo, é mais alta e ficou na altura da janela que dá para a mata. Encaixou perfeitamente. Virou um espaço gostoso para a leitura. No ambiente onde colocamos o piano do Fred está uma outra maior, de casal, onde fico deitada ouvindo-o tocar. Nas festas que fazemos, elas são concorridas: todos querem ficar esparramados nelas ? comenta a designer.

A casa tem uma tendência ao colecionismo. Além de móveis, conchas trazidas de praias pelo mundo e penas, há uma cristaleira com insetos secos, como besouros e borboletas, quase todos encontrados sem vida dentro do apartamento.

ribas2.jpg? Começamos a guardar os bichinhos por acaso. Volta e meia nos deparávamos com um deles e, de tão lindos, não tinha coragem de jogar fora, como normalmente aconteceria. Fiz o oposto: coloquei em um lugar de destaque ? diz.

Para montar os ambientes, Marina leva em conta a luz, a brisa e a forma.

? É arquitetura e não feng shui, vale frisar ? explica ela, que já levou o seu conceito para empresas e, agora, pretende fazer projetos residenciais.

A ideia é que o morador encontre em casa um lugar de alegria, conforto e identidade. Arquitetura emocional não é algo que pode ser construído para uma pessoa, precisa ser feito junto com a pessoa. Algumas casas possuem ambientes ?doentes?, aqueles que nunca estão arrumados, viram espaço para entulhar coisas. Marina explica que estes locais só são curados quando o dono também se envolve.

? O primeiro passo é entrevistar as pessoas que moram ali para entender a dinâmica do ambiente. Conhecer as movimentações e as necessidades do espaço ? explica ela, que segue fazendo um diagnóstico, lista o acervo da pessoa e, só depois, pensa na construção do décor da casa. ? A minha ideia é fazer com que as pessoas sejam melhores a partir do lugar onde moram.

ribas1.jpgMarina chama o seu trabalho também de non d?ecor, uma metodologia própria e intuitiva, que, ela explica, foi desenvolvida após anos atuando no mercado de moda, fazendo visual merchandising e interiores de lojas.

? O cliente relata suas angústias e desejos. Observo o ambiente, que sempre fala por si. A minha narrativa é uma resposta a este cenário. Penso que se você não é feliz na sua casa, também não será fora dela. Ou então vai precisar estar sempre fora ? destaca Marina.

Afinal, não há lugar como o nosso lar.