Cotidiano

Liderança envelhecida

Muito apropriadamente vem sendo discutido de forma intensa, em diferentes ocasiões, a representação de mulheres e negros em nossas instituições públicas e privadas. Agora mesmo, na formação do governo interino de Michel Temer, foi criticado o fato de não contarmos com tal representação no Ministério.

Mas o que constatamos nesse caso também pode ser visto em diferentes organizações públicas e privadas. É uma luta contínua, à qual não devemos dar tréguas.

Porém, o que também encontro nas diferentes organizações do setor privado onde atuo, e em algumas que ajudei a criar, não se restringe ao que assinalei. Também constato o envelhecimento dos componentes de algumas dessas instituições. Seja por desinteresse dos jovens a elas se associarem, ou até mesmo por não haver políticas claramente estabelecidas em seus regimentos que incluam esse objetivo de renovação, sua representação está em muitos casos superada. Recentemente, numa delas, definimos em uma reunião do comitê de direção que deveríamos buscar novos participantes com menos de 30 anos. A bem da verdade, devo reconhecer que algumas instituições criadas anos atrás não se reciclaram ou se atualizaram para funcionar num cenário distinto de suas origens.

Tratei desse tema num encontro recente com Jorge Paulo Lemann, que, independentemente de suas qualidades empresariais, como todos sabem, vem investindo há muitos anos em propiciar educação a jovens brasileiros através de sua bem-sucedida e reconhecida Fundação Estudar. Tem proporcionado, com muito sucesso, bolsas a estudantes no Brasil e exterior.

Pois muito bem. Ao conversamos sobre esse tema, ele fez questão de enfatizar, e não era a primeira vez que o fazia, sua crença numa nova geração de jovens treinados dispostos a nos ajudar nos desafios que o país terá pela frente, e que, sabemos, não serão poucos.

O que ele me relatou merece ser compartilhado com os leitores. Em 23 de abril, no principal auditório da Harvard Law School, reuniram-se cerca de 350 estudantes e autoridades no ?Brazil Seminar?, organizado por alunos de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology. Ao fim do encontro, em que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, esteve presente, perguntou-se aos presentes quantos estariam dispostos a atuar na política. Não foi sem surpresa que cerca de 50 subiram ao palco, e mais de uma dezena não o fez por falta de espaço.

Estamos observando que, mundo afora, os jovens estão insatisfeitos com a situação de seus respectivos países e votam por mudanças. Repudiam o velho e querem um novo, ainda não claramente definido. Sabem o que não querem e favorecem mudanças. A leitura do cenário internacional nos indica que há uma insatisfação com o status quo, e mudanças são desejadas.

Assim, a existência de jovens motivados a voltar ao Brasil e lutar por mudanças nos enche de esperança. Indica que teremos dias melhores pela frente com uma nova geração, e com uma representação de gênero e raças diferentes, vindo a se juntar a uma velha guarda que ainda luta para melhorar o país, usando sua experiência para ajudar na escolha de melhores caminhos.

Roberto Teixeira da Costa é empresário