BRASÍLIA ? Um dia após reclamar do apoio de ministros do governo Michel Temer à reeleição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), lançou sua candidatura à vaga nesta terça-feira em evento com discursos pela independência da Casa, defendendo que a Câmara não pode ser uma extensão do Palácio do Planalto. Ao discursar antes do candidato, os aliados do petebista fizeram críticas indiretas, sem citar o atual presidente, mas tentam colar em Maia o rótulo de candidato oficial do Planalto.
Os discursos de independência de integrantes do antigo centrão lembram o feito por Eduardo Cunha, em 2015, quando foi eleito em primeiro turno, derrotando o candidato de Dilma Rousseff e tornando-se o grande catalizador de crises para o governo do PT. O slogan da campanha, distribuído em adesivos na entrada no evento, é “Jovair: coragem para ser independente”.
Em seu discurso, no entanto, Jovair Arantes evitou dar ênfase, como seus aliados, à tese da independência do Planalto. Deixou claro que irá colocar em votação as matérias enviadas pelo Executivo e tentará aprová-las, se possível. Mas acrescentou que cabe aos deputados a decisão sobre o mérito. Os principais ataques feitos pelo petebista foi à candidatura à reeleição de Maia, que entende como inconstitucional.
? Aqui, 512 deputados podem ser candidatos à Presidência e só um tem que pedir pareceres. Não podemos expor a Casa ao ridículo e à tutela do Ministério Público e do Judiciário. Presidente tem que dar exemplo de cumprimento da lei e da Constituição – disse Jovair Arantes.
Um dos principais apoiadores da campanha de Jovair Arantes, Paulinho também aproveitou o lançamento para avisar que essa independência do governo é necessária porque é preciso modificar a Reforma da Previdência enviada ao Congresso Nacional por Temer.
? Está aqui o deputado Arnaldo Faria de Sá que sabe: a reforma da Previdência, como veio, é inaceitável. Temos que fazer uma reforma justa. Não pode uns pagarem muito e outros nada.
? Para não dizer que o governo está todo do outro lado, estamos aqui com Sandro Mabel. A Câmara tem que ter independência, não pode ser a extensão do Palácio do Planalto – alfinetou o presidente nacional do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical.
Presente no evento, o também candidato e líder do PSD, Rogério Rosso (DF), voltou a dizer que a Reforma da Previdência será modificada na Casa. Que Temer teve coragem de enviá-la, mas que é tarefa dos deputados modificá-la.
O líder do PROS, Ronaldo Fonseca (DF), também criticou a interferência do Planalto na disputa da Câmara:
? Fica aqui um recado: o Planalto que não se meta aqui na eleição, que é da Casa. Não é do blocão, do centrão, é da Casa!
ATO TEM PRESENÇA DO LÍDER DO PT E DE BAIXO CLERO
O ato reuniu pouco mais de 20 deputados federais de dez partidos – os eleitores da disputa – mas os dois ambientes do Salão Nobre da Câmara estava lotado com prefeitos, deputados estaduais, vereadores e apoiadores do petebista no estado de Goiás. O vice-governador do estado, José Eliton (PSDB), também esteve presente e reafirmou o apoio do estado ao petebista.
O líder do PT, Carlos Zarattini (SP), fez questão de comparecer ao evento e avisou que a bancada de seu partido ainda discute a quem apoiar, mas quer participar – como segunda maior bancada da Casa – da Mesa Diretora.
? Queremos um parlamento independente, capaz de defender a democracia. Apesar de todas as divergências com Jovair, respeitamos e consideramos legítimas a postulação à Presidência da Casa. O PT quer participar da Mesa Diretora, na proporcionalidade. O PT estará sempre aberto a discutir – disse Zarattini.
Além do líder petista, também participaram do lançamento líderes de dois partidos menores – PROS e PSL. Em sua grande maioria, os presentes no evento eram deputados do chamado baixo clero, principal suporte da candidatura de Jovair Arantes. O candidato deixou claro que a campanha irá focar nos deputados e não em partidos.
O candidato do PTB voltou a dizer que um dos seus primeiros atos será criar uma comissão na Casa para modificar o regimento interno. Segundo Jovair Arantes, o regimento foi feito quando a Casa ainda tinha pouco mais de cinco partidos e a realidade, agora, é de 28 partidos com representação na Casa.
LAVA-JATO
Primeiro a falar, o petebista Nelson Marquezelli (SP), ressaltou que Jovair Arantes não tem “nenhuma citação na Lava-Jato” e acrescentou que nomes citados não podem concorrer na eleição:
? Já tivemos problemas antes, não podemos mais correr esse risco.
Nas conversas com deputados, os aliados de Jovair Arantes exploram não só o que consideram a inconstitucionalidade de sua candidatura à reeleição – a partir de uma interpretação sobre o artigo que veda a recondução dos integrantes da Mesa eleitos no início de cada legislatura -, mas também o fato de que pode aparecer fatos contra Maia nas delações de executivos da Odebrecht. O vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Filho delatou pagamentos no valor total de pelo menos R$ 600 mil a Maia, a quem aponta como um de seus interlocutores preferenciais no Congresso Nacional.
No relato, o executivo vincula um dos pagamentos, de R$ 100 mil, ao apoio de Maia à Medida Provisória 613, de 2013. Na lista dos pagamentos, o presidente da Câmara recebeu o codinome de “Botafogo”. “Durante a fase final da aprovação da MP 613, o deputado, a quem eu pedi apoio para acompanhar a tramitação, aproveitou a oportunidade e alegou que ainda havia pendências da campanha de Prefeito do Rio de Janeiro em 2012. Solicitou-me uma contribuição e decidi contribuir com o valor aproximado de R$ 100.000,00, que foi pago no início do mês de outubro de 2013”, disse o executivo.