SÃO PAULO. O ex-ministro José Dirceu pediu ao juiz Sérgio Moro que revogue a prisão preventiva e permita que fique em liberdade até a decisão da segunda instância, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Moro foi irredutível e afirmou que sua posição já foi manifestada na sentença. Dirceu foi condenado a 23 anos e três meses de prisão em regime fechado pelos crimes de corrupção passiva, pertinência (participação) à organização criminosa e lavagem de dinheiro por ter recebido valores da Engevix, num total de aproximadamente R$ 15 milhões em propinas, vinculadas a contratos da Petrobras.
O pedido foi feito quando as perguntas foram encerradas e Moro perguntou a ele se gostaria de falar mais alguma coisa.
– Gostaria de pleitear responder em liberdade. Estou preso, não é crível que alguém acredite que vou fugir da situação. Tenho que sair para trabalhar e sustentar minha filha, que tem seis anos – disse Dirceu.
Moro disse que já já havia dado a decisão e a explicação na sentença, ao afirmar que Dirceu seguiu recebendo propina mesmo durante o julgamento do escândalo do mensalão.
– Respeito, o senhor é juiz e eu sou réu. Evidente que o senhor tem o juízo… Se eu obstruísse a Justiça, fugisse.. Mas o Supremo decidiu que a pena deve ser cumprida depois da segunda instância..Preciso trabalhar. Tenho mais de 70 anos, tenho uma filha menor, tenho que trabalhar. Não estou dizendo para ter piedade de ninguém, são fatos objetivos – afirmou Dirceu, referindo-se à decisão do Supremo Tribunal Federal de que os condenados devem passar a cumprir a pena a partir da confirmação da sentença em segunda instância.
Dirceu lembrou que está preso a cerca de um ano e três meses.
– Vou cumprir minha pena – afirmou.
Moro encerrou o assunto afirmando a Dirceu que ele tem um advogado competente e que pleiteia a liberdade dele a instâncias superiores.
– Agradeço a tolerância – disse Dirceu.
Ao prestar depoimento, na condição de réu, Dirceu afirmou que não sabia o motivo de estar respondendo à ação, que envolve contrato da Apollo Tubular com a Petrobras. De acordo com a Petrobras, os donos da Apolo procuraram o empresário Júlio Camargo para ajudar a fechar o contrato com a estatal. O diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, teria ajudado a empresa a fechar o contrato em troca de uma propina de R$ 7 milhões em propina.
Os procuradores do Ministério Público Federal disseram que Dirceu teria recebido R$ 2,1 milhões de Júlio Camargo, que pagou despesas da aeronave usada pelo ex-ministro.
Dirceu nega e afirma que foi acusado apenas com base na delação de Júlio Camargo, que estaria mentindo.
O ex-ministro disse que não conhecia os donos da Apollo Tubular e que Júlio Camargo havia lhe emprestado a aeronave
– Se ele me emprestava o avião não poderia me cobrar a tarifa cheia. Usei emprestado, ele jamais fez relação com a Petrobras. Ele me oferecia o avião, sem nada em troca – disse Dirceu.
O ex-ministro afirmou que nunca prometeu qualquer contrato da Petrobras ou discutiu licitações da empresa. Afirmou também que não indicou Renato Duque para o cargo de diretor da Petrobras, apenas assinou a nomeação como era praxe do cargo que ocupava, como ministro da Casa Civil.
Dirceu afirmou também que os valores destinados a supostos pagamento pelo uso do avião já foram contemplados na ação em que ele foi condenado, relacionada à Engevix.
Na mesma ação foram incluídos pagamentos feitos por outra empresa contratada da Petrobras, a Credencial. Dirceu afirmou que prestou serviços à empresa, apresentando seus dirigentes a autoridades do Panamá, e recebeu por eles, sem qualquer vínculo com a estatal.