– Pesquisaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!
O grito, lançado sempre tarde da noite, informava à redação que o pessoal do departamento de pesquisa, nosso Google particular, estava indo embora: se alguém tivesse alguma dúvida, que a encaminhasse logo, ou não teria como resolvê-la. Sim, tínhamos alguns dicionários muito surrados espalhados pelas mesas, tínhamos revistas, documentos soltos, obras de consulta nas nossas várias especialidades. Mas nada disso substituía a pesquisa.
O departamento tinha acesso ao arquivo do jornal, e mais enciclopédias, mais livros, mais dicionários. Os pedidos eram respondidos com pastas de papel cheias de recortes e cópias de documentos. Apesar da competência dos pesquisadores, nem sempre a resposta exata ao que queríamos estava lá. E toca a revirar mais livros, fazer mais consultas, dar mais telefonemas.
Sei que era assim porque estava lá, mas realmente não sei como conseguíamos fazer jornal sem internet. Na verdade, não sei sequer como conseguíamos sobreviver sem internet. Quando o Globo On estreou, a web era uma novidade tão recente no Brasil que não só escrevíamos Internet com I maiúsculo, como acrescentávamos um invariável parênteses na sequencia: “rede mundial de computadores”. Era difícil explicar para os amigos e parentes que não tinham computador — ou seja, quase todos — o quê, exatamente, era aquele novo produto do jornal.
Os celulares ainda eram objetos de luxo, caríssimos, grandes, pesados. A era dos telefones pequenos estava para começar com o inesquecível Startac e os primeiros Nokia da ATL, operadora concorrente da finada e pouco saudosa Telerj, que mais tarde deu origem à Claro.
Pessoas muito solicitadas ainda usavam pagers, aparelhinhos miúdos que emitiam bips quando recebiam uma mensagem. Os modelos avançados mostravam mensagens curtas, perto das quais os 140 caracteres dos tuítes são autênticas epopéias; mas a ideia geral era correr até o telefone mais próximo, ligar para a central e saber o que estava acontecendo.
Muitos de nós, no jornal, chegamos a usar bips, como os pagers acabaram sendo popularmente conhecidos. Nosso cordão umbilical com a redação, porém, continuava sendo o rádio dos carros de reportagem.
As câmeras digitais estavam começando a ficar conhecidas, mas era preciso ter mais paixão do que objetividade para gostar do resultado que produziam. A Mavica, da Sony, lançada em 1997, foi um divisor de águas. Ela não só fazia ótimas imagens, como as gravava em disquetes, eliminando a necessidade de cabos. Que, não custa lembrar, não eram USB — antes do final dos anos 1990, computadores se conectavam a outros aparelhos através de portas paralelas e seriais, que tinham que ser configuradas aparelho a aparelho. Nem vale a pena lembrar a miséria que era isso!
A grande revolução, porém, ainda demoraria alguns anos para acontecer — mas quando celulares e câmeras se juntaram, já nos anos 2000, a comunicação humana mudou de forma radical. Os jornais nunca mais foram os mesmos; as nossas vidas nunca mais foram as mesmas. Nossa relação com as notícias e com o tempo mudou; o mundo encolheu.
A comunicação ganhou novos canais nas redes sociais, onde leitores, jornalistas e notícias se misturam 24 horas por dia. Há 20 anos, quando o Globo On foi ao ar e Compuserve e AOL disputavam usuários nos Estados Unidos, uma rede chamada SixDegrees dava os seus primeiros passos. Não chegou a fazer muito sucesso, mas estabeleceu um formato que se provaria popular, permitindo a criação de grupos e de perfis.
De lá para cá, antes de Facebook e Twitter se tornarem tão onipresentes, muitas outras redes tentaram unir pessoas. Algumas continuam vivas e bem, outras ficaram pelo caminho. É difícil lembrar de todas: Friendster, MySpace, Second Life, Orkut, Google+, Linkedin… Em todas somos meio leitores, meio produtores de conteúdo. Já trocamos figurinhas no Fotolog e no Flickr, hoje estamos sobretudo no Instagram, no Vine e no YouTube. Ao longo dos anos transmitimos informações pelo antiquíssimo IRC, pelo ICQ, pelo Messenger, pelo WhastApp, pelo Snapchat.
Texto, fotografia, vídeo, transmissões ao vivo — participamos de tudo ao mesmo, existindo simultaneamente em muitas mídias e diferentes redes sociais. Os jornais, como todos nós, alimentam as redes sociais e se alimentam delas. Para onde vamos? Realidade Virtual e Realidade Aumentada começam a fazer parte do leque das nossas possibilidades, que parecem ilimitadas.
O que é certo é que nunca o mundo mudou tanto em 20 anos quanto nos últimos 20 anos.