LONDRES ? A decisão do Reino Unido de construir um muro na cidade francesa de Calais para bloquear migrantes e refugiados que tentam chegar ao país, anunciada nesta quarta-feira, gerou críticas de governos e de organizações. As obras deverão começar ainda neste mês, segundo autoridades, na localidade que concentra milhares de refugiados na Selva, como é conhecido o campo de refugiados de Calais por conta das suas péssimas condições humanitárias. O objetivo é evitar que os imigrantes continuem a pular em caminhões em seu caminho ao território britânico. reinounidocalais
Com 4 metros de altura e 1 quilômetro de extensão, o muro deverá ser finalizada ainda neste ano. Segundo o governo, a obra é parte de um pacote com a França, cujo orçamento é de 17 milhões de euros.
? Nós já fizemos uma cerca, agora vamos fazer o muro ? disse o ministro da Imigração britânico, Robert Goodwill. ? As pessoas ainda estão passando. A segurança que estamos implementando está sendo reforçada com equipamentos melhores.
A medida, ao longo de quarta e quinta-feira, foi angariando críticos.
? A construção do muro é outra confirmação da fraquez e do cinismo dos governos britânico e francês. A cerca, por si só, já vinha exacerbando os ferimentos e mortes entre os refugiados ? criticou André Jincq, coordenador do Programa de Migrantes da ONG Médicos Sem Fronteiras na França.
Lembrando que atualmente centenas de crianças vulneráveis vivem em condições “perigosas” em Calais, o diretor de Relações com o Governo da ONG Save The Children, Steven McIntosh, disse que protegê-las “deve ser nossa prioridade absoluta.
? Estas crianças e jovens vão tentar, desesperadamente, fugir do campo para conquistarem uma vida melhor e mais segura. É de vital importância garantir que qualquer medida de segurança tomada em Calais não coloque a vida deles em perigo.
O governo da Itália também criticou a construção do muro, e pediu que os países pensem em uma solução conjunta. Os italianos são um dos países que mais sofrem com a chegada maciça de migrantes pelo Mediterrâneo.
? Eu não julgo medidas adotadas por outros governos, mas penso que não iremos a nenhum lugar desta maneira. Devemos ter consciência que a solução é investir na África, resolver os conflitos, como na Síria, e dividir o peso da imigração em nível europeu ? afirmou o chanceler italiano, Paolo Gentiloni.
TENSÕES EM ALTA
Nesta semana, caminhões e tratores bloquearam as estradas perto de Calais em um protesto pelo fechamento da Selva. Os motoristas reclamavam dos refugiados que começaram a recorrer a táticas perigosas para obrigar os veículos a frear e deixá-los subir na parte traseira. Alguns lançam ramos de árvores e outros objetos. A prática representa um risco aos caminhoneiros e aos seus próprios autores. Sete imigrantes já morreram durante este ano nas estradas.
O ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve, havia prometido que o governo desmantelará o campo ?em uma operação controlada? o mais rápido possível. No entanto, os manifestantes pedem uma data precisa para o fechamento do local.
As tensões aumentaram em Calais enquanto o número de abrigados chegava a pelo menos 7 mil pessoas no campo de refugiados ? que se tornou um símbolo dos desafios impostos pela crise migratória à Europa. A maioria dos refugiados no local tenta chegar ao Reino Unido na fuga das guerras e da pobreza no Oriente Médio e na África.
No entanto, grupos humanitários adverem que o fechamento precipitado do campo de Calais poderia dispersar os imigrantes, agravar os problemas da cidade e agravar ainda mais o drama humanitário. Embora as condições locais sejam lamentáveis, lá os refugiados têm acesso a alimentos e chuveiros.