TORONTO – Apesar do otimismo do governo brasileiro com o avanço da mineração no país, os investidores do ramo reunidos na maior feira mundial sobre o tema, o PDAC, no Canadá, exigem medidas rápidas para continuar a acreditar no país ou para fazer novas apostas. mineração
? O sentimento é positivo, mas preciso de resultados rápidos ? disse Andrew Storrie, britânico que presta serviços para a multinacional Anfield Gold.
Em seu projeto já foram investidos cerca de US$ 40 milhões em uma mina de ouro no interior do Pará. Ele comprou equipamentos para operá-la e conta com 400 funcionários, mas aguarda licenças no país há mais de um ano.
? Sempre me falam que a licença sairá em duas semanas, mas isso nunca acontece ? acrescenta ele.
Storrie ouviu com otimismo, como outros investidores internacionais, discursos do ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, no Canadá, mas disse que não pode esperar mais muito tempo para que seu principal investidor ? Ross Beaty, conhecido como o Bill Gates da mineração ? continue a apostar em seu projeto, com potencial para funcionar por dez anos.
Para Luiz Mauricio Azevedo, da Associação Brasileira de Pesquisa Mineral (ABPM), se a Anfield Gold deixar o Brasil, afastará cerca de um terço dos potenciais investidores de mineração canadenses do pais ? o Canada é o mais tradicional investidor em mineração do mundo, com cerca de 60% de mercado e 1.600 mineradoras listadas em bolsa.
Apesar de não haver dúvidas sobre o potencial do país ? no Brasil, a mineração é feita praticamente toda na superfície e com apenas seis atividades no subsolo, onde se encontram as principais jazidas ?, o cenário da mineração brasileira é complicado, por um histórico de mais de cinco anos de incertezas sobre a regulação.
Em 2012, o governo enviou ao Congresso um projeto intervencionista, que ameaçava a retirada de direitos minerários.
Nos últimos anos, Peru, Equador e Chile vêm tomando boa parte dos potenciais investimentos no país, por possuírem condições econômicas e regulatórias mais favoráveis. O índice de atratividade de investimentos minerais do Fraser Institute publicado nos últimos dias aponta que, apenas na América Latina, pelo menos Peru, Chile, México e as Guianas estão à frente do Brasil.
Em 2008, 59 empresas brasileiras tinham ações no Canada, e, agora, são apenas 17 com minas ativas. Mesmo assim, as companhias com recursos canadenses respondem por três a cada quatro quilos de ouro produzidos no Brasil.
? Temos que crescer três vezes para voltar ao que já fomos ? resumiu Azevedo, da ABPM.
DECRETO PODE REDUZIR PREÇOS
É por isso que o pacote busca resgatar a credibilidade do mercado brasileiro, explicou Victor Bicca, diretor-geral do DNPM. Segundo ele, o decreto a ser publicado nas próximas semanas pelo governo vai simplificar a legislação e tende a reduzir prazos.
No segundo semestre, o DNPM vai leiloar, por meio de pregão eletrônico organizado pela Receita Federal, as primeiras mil áreas disponíveis em leilão. O edital será aberto 60 dias antes do pregão, em versões inglês e português, para atrair estrangeiros.
? O governo começa a ver a mineração como um mecanismo de alavancagem do desenvolvimento do Brasil ? disse Bicca.
No fim de outubro, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) também deverá leiloar quatro áreas para exploração mineral, em ações que deverão testar o apetite do mercado por negócios no Brasil. Embora o mercado seja reticente quanto ao sucesso de todos os leilões, essa será uma oportunidade de o governo de testar o apetite dos investidores e a aceitação das novas regras.
? A curva de preços começou a mudar e estamos saindo do fundo do poço, mas precisamos de segurança jurídica e transparência para avançar ? disse Eduardo Ledsham, presidente da CPRM.
Vencerá as áreas leiloadas pela CPRM quem se comprometer a fazer mais investimentos nas minas no prazo de dois anos, como forma de o governo acelerar o ritmo da atividade mineral no país.
Também como forma de atrair os estrangeiros, Ledsham explica que a CPRM começou agora a oferecer sem custo para os interessados levantamentos aerogeofísicos feitos de cerca de 90% do país nos últimos anos. Os dados, nos quais o governo investiu cerca de R$ 1 bilhão nos últimos anos, ajudam a reduzir riscos nas atividades, uma vez que há mais conhecimento disponível sobre os solos.
Apesar de ter áreas com potencial minerados similares a países como Austrália e Canadá, onde a atividade está mais consolidada, no Brasil investe-se apenas cerca de 30% do valor anual desses dois países, na ponderação pelas áreas.
? O Brasil não dá a mineração o espaço que ela merecer, como setor nobre para a economia e o desenvolvimento ? disse Fernando Coelho Filho, ministro de Minas e Energia, destacando que o segmento é uma prioridade para o atual governo.
CENÁRIO MUNDIAL DA MINERAÇÃO
Depois uma onda de forte valorização das commodities na virada da década e anos recentes de freada nos preços internacionais, o cenário mundial para os minérios é de otimismo, mas com pragmatismo.
Durante a feira do PDAC nesta semana em Toronto, Canadá, analistas se intercalaram nas declarações de que o preço do minério de ferro ter atingido a marca de US$ 90 nas últimas semanas era uma boa surpresa, mas praticamente todos veem esse preço como insustentável. Por ser um minério mais uniforme, o ferro é tido como um dos melhores indicadores da variação dos preços do setor.
Para Jon Butcher, economista-chefe da Wood Mackenzie, o cenário melhorou, mas não está róseo.
? O crescimento da Europa ainda é devagar ? destacou ele.
Rory Johnston, analista dos setores de mineração e energia do Scotiabank, disse que não se pode ser tão otimista com o mercado e que algo que se possa esperar para a frente é volatilidade ao longo de uma retomada na próxima década. Segundo Johnston, porém, há alguns setores com déficit de oferta para ser otimistas, como zinco e cobre.
* O repórter viajou a convite da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb)