CAMBERRA, Austrália ? Os partidos políticos da Austrália iniciaram negociações neste domingo para tentar quebrar o impasse político formado após as eleições parlamentares deste sábado não produzirem um vencedor claro, aumentando a perspectiva de instabilidade política e econômica prolongada, que coloca em risco até mesmo o rating dos papéis do país. De acordo com a BBC, 12 das 150 cadeiras da câmara baixa ainda não foram definidas, sendo que o partido trabalhista de oposição já assegurou 71 delas, e a coalizão de governo, 67.
Para conseguir maioria, um partido ou coligação precisa obter ao menos 76 cadeiras. Com o resultado surpreendente, a coalizão que sustenta o primeiro-ministro de centro-direita, Malcolm Turnbull, se coloca em posição precária, precisando de apoio de partidos menores e independentes, que já contam com 5 cadeiras. Outro cenário possível, porém menos provável, é que o partido trabalhista, principal da oposição, consiga apoio suficiente para formar um novo governo, apesar de Turnbull se manter ?confiante? para permanecer no posto por mais um mandato de três anos.
? Eu posso pometer a todos os australianos que vamos dedicar nossos esforços para garantir que o estado do novo parlamento seja resolvido sem divisões e rancores ? disse o primeiro-ministro, que acusou a oposição de ter feito campanha suja.
A polícia informou neste domingo que está analisando a possibilidade de investigar a fonte de milhares de mensagens de texto enviadas a eleitores no dia da eleição pelo partido trabalhista, alertando que os serviços de saúde poderiam ser privatizados pela coalizão governista.
Por sua vez, Bill Shorten, líder da oposição, avaliou o resultado como uma rejeição dos australianos ao primeiro mandato de Turnbull, que impôs reformas como cortes no orçamento da saúde em US$ 37 bilhões ao longo de dez anos.
? O que estou muito certo é que, enquanto não conhecemos o vencedor, existe um perdedor claro: a agenda de Malcolm Turnbull para a Austrália ? disse Shorten.
A eleição parlamentar, excepcionalmente antecipada pelo governo, pretendia pôr fim a um longo período de instabilidade política. Nos últimos três anos, o país teve quatro primeiros-ministros. Em vez disso, o pleito deixou em Camberra um vácuo de poder e aumentou o desafio de Turnbull, menos de um ano após ele ter substituído Tony Abbott em golpe dentro do partido.
Caso a coalizão falhe em formar um governo, será a primeira vez em 85 anos que um partido governista perde o poder após o primeiro mandato. E as incertezas devem influenciar os mercados nesta segunda-feira, com analistas alertando que o rating de crédito AAA está em risco e que a moeda local, o dólar australiano, pode sofrer forte desvalorização.
Com cerca de dois terços dos votos computados, a apuração ainda deve se estender por cerca de uma semana.