RIO ? Olimpíada não é só esporte. Muita gente vem ao Rio atraída pelas festas realizadas paralelamente e pelas belezas naturais da Cidade Maravilhosa. Os jovens, em sua maioria, preferem se hospedar em hostels, seja pelo preço abaixo do praticado pelos tradicionais hotéis ou pelo ambiente, que proporciona mais contato com pessoas de outras culturas. Na região da Barra, os albergues estão preparados para receber os turistas e já têm eventos programados, que podem, inclusive, ser frequentados por moradores dos bairros.
A Associação de Cama e Café e Albergues do Estado do Rio de Janeiro (Accarj) não tem o número de hostels que abriram na região da Barra de olho no potencial da Copa do Mundo e da Olimpíada, mas pesquisa feita há 15 dias mostra que há otimismo entre os proprietários deste tipo de estabelecimento. Embora muitos ainda tenham vagas, eles esperam que 95,7% dos leitos sejam ocupados durante os Jogos.
? Mas, para isso, terão que mexer no preço da tarifa, que não será tão boa quanto o esperado ? afirma a diretora da Accarj, Carla Lee Barnett.
De acordo com a pesquisa, 70% dos leitos estão reservados, a maioria por empresas que fecharam pacotes.
? Este número está abaixo do esperado. A esta altura, era para termos pelo menos 85% de ocupação ? analisa Carla.
O Pontal Hostel, instalado há cinco anos em frente à Praia da Macumba, no Recreio, costuma receber gente de todo tipo, de surfistas a executivos. O local, como a maioria dos albergues, é uma casa adaptada. Tem 14 quartos, entre individuais e compartilhados, todos com banheiro. Conta com armazenamento de água da chuva e aquecimento por energia solar. O espaço ainda tem piscina, churrasqueira e um bar. A proprietária, Priscila Martello, diz que são diferenciais importantes para os hóspedes.
? Temos uma estrutura confortável e que ainda proporciona um ambiente leve e de integração. Costumamos fazer churrascos e festas para os hóspedes ? diz.
Priscila deu início às reservas para os Jogos Olímpicos há duas semanas, e já alugou 17 dos 57 leitos disponíveis. Ela começou a pensar na programação de eventos para o período, mas espera ter o perfil dos hóspedes mais bem definido para escolher as atrações.
? Já sabemos que vamos fazer churrascos, mas vou esperar um pouco mais para definir as atrações musicais e começar a divulgá-las ? afirma a empresária, ressaltando que os eventos podem ter a participação de não hóspedes.
No Hostel Braz, também no Recreio, a taxa de ocupação para a Olimpíada já é maior. Segundo o proprietário, Marcelo Braz, 22 das 33 camas estão reservadas, a maioria para europeus. O albergue recebe muitos surfistas e tem um ambiente descontraído, geralmente animado por churrasco e música à beira da piscina. Tendência que será mantida na Olimpíada.
? O ambiente aqui é muito gostoso. Sempre tem música. De vez em quando, até a Sandra de Sá dá uma canja por aqui. Queremos manter este formato para os Jogos. Já temos três músicos contratados para shows, todos de MPB, que é o que os hóspedes mais pedem ? adianta.
Além da hospedagem, o hostel vai oferecer passeios para a Prainha, Abricó e Grumari, que ficam próximos ao Recreio, e traslado para o Parque Olímpico.
? São serviços que estão disponíveis para todos, não apenas para os hóspedes. Basta avisar com antecedência, inclusive para as festas. E, se algum morador do Rio quiser vir, como já acontece, também será muito bem-vindo ? ressalta Braz.
O clima de festa também estará presente no hostel Recanto Carioca, o único da Ilha da Gigóia. A proprietária, Carla Lisboa, já fechou um pacote com um grupo francês e tem 23 dos 32 lugares reservados. Para causar boa impressão e manter o movimento depois dos Jogos, ela reformou o quintal, e, para a Olimpíada, vai instalar telões e promover ?comes e bebes? para hóspedes e convidados.
? Já temos confirmada a presença de 24 franceses, e vamos fazer eventos para integrá-los aos moradores daqui ? conta Carla.
INTEGRAÇÃO ENTRE OS HÓSPEDES
A expectativa de rendimentos divide os proprietários dos hostels da região. Enquanto Carla Lisboa, do Recanto Carioca, espera ter um faturamento cinco vezes maior do que o de um mês comum, outros, como Marcelo Braz, do Hostel Braz, ficarão felizes se conseguirem dobrá-lo. O problema, segundo ele, é que muitas pessoas puseram seus apartamentos e quartos para alugar, uma concorrência que considera injusta.
? Aqui no Recreio está todo mundo alugando apartamento ou quarto. Isso é ruim para nós, pois pagamos impostos e serviços, enquanto quem não tem essas despesas oferece uma casa por R$ 1 mil por dia, às vezes até para dez pessoas ? queixa-se.
Priscila Martello, do Pontal Hostel, aposta em triplicar o lucro, e se fia no fato de os estabelecimentos comerciais terem mais credibilidade que o setor de imóveis para alugar:
? O turista gosta de chegar e ter o café da manhã posto na mesa. Sem contar a segurança, pois, conosco, ele sabe que está alugando um quarto que existe mesmo, e não é só um anúncio na internet.
Ricardo Sombra, dono do Barra Hostel, logo no começo da Barra, costuma viajar com frequência para o exterior, e vê a crise política e econômica e doenças como a zika como inimigas da Olimpíada.
? Semana retrasada estava em Londres e as manchetes eram a zika e a possibilidade de adiar a realização dos Jogos. Isso é ruim para todos aqui ? reclama.
No Barra Hostel, a tranquilidade também dá o tom. Embora o proprietário, Ricardo Sombra, pretenda promover uma ?chopada? de integração e vá botar alguns monitores para a transmissão das disputas, o clima na pousada, que já tem quase 50% do espaço alugado, é de sossego.
? Também vamos investir em pacotes para passeios e trilhas na região ? conta.
Para quem busca a integração com outros hóspedes, mas prioriza o descanso, outra opção é o Hostel Tree House, localizado dentro de um condomínio no Itanhangá e com muito contato com a Mata Atlântica. O albergue também é uma casa adaptada. Foi construído na década de 1990, para ser a residência do então vendedor de livros Aristides Pulini Martins. Com o tempo, os filhos saíram de casa, ele se aposentou e ?a casa ficou grande?. Em janeiro de 2013, Martins transformou o imóvel num hostel, onde mora e trabalha, e buscou inspiração nas pousadas de Visconde de Mauá e de Penedo, no Vale do Paraíba fluminense.
? Minha casa daria uma bela pousada, mas optei pelo hostel por ser um modelo de negócio mais viável ? explica o empresário.
Lá existem dez suítes, todas com banheiros, uma piscina e uma churrasqueira em meio às montanhas. Um charme da propriedade é o imenso tronco de árvore perto do qual está a recepção e que origina o nome do albergue. Para a Rio 2016, mesmo sem ter uma programação de eventos, Martins já tem reserva para 40 dos 66 lugares.
? Tenho um ambiente muito bom para descanso, com transporte na porta e delivery de comida, mas, quem quiser, pode fazer comida na churrasqueira. É só deixar tudo em ordem depois ? diz, bem-humorado.
Os donos de hostels da região, propriedades mais espaçosas que as de outras áreas da cidade e privilegiadas pela natureza ao redor, apostam em turistas como as paulistas Idayana Lima e Kamila Mendes, para faturar na Olimpíada. No feriado de Corpus Christi, elas ficaram pela primeira vez na Barra, hospedadas no Tree House, e gostaram da experiência.
? Vim atraída pelo valor e pela comodidade. O ambiente nos dá a chance de conhecer pessoas novas e de outras culturas, e a piscina é um diferencial ? observa Idayana.