RIO – Enquanto a polícia afirma que a principal linha de investigação sobre a morte de Diego Vieira Machado aponta para assassinato por homofobia, um dos grupos conservadores da UFRJ ironizou e questionou na internet se o homicídio teria essa motivação. No Facebook, integrantes do ?UFRJ da Opressão? chegaram a afirmar que haveria quem tentasse capitalizar em cima do crime.
?O camarada foi achado morto, no Fundão, com sinais de espancamento. Trata-se de um crime, um homicídio. A onda de violência que assola a cidade. A vagabundagem que, na prática, é inimputável. A PM que não pode entrar no Fundão sem autorização (o campus está sob circunscrição federal). Etc., tudo isso explica o crime (…). A escumalha fascistóide se prendeu só ao fato da vítima ser um gay. Pronta e morbidamente começaram a capitalizar o crime em prol da agenda viadista que defendem?, publicou o grupo no último domingo.
Com uma imagem do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) como sua foto de capa, o grupo ? com 407 seguidores ? descreve que seu objetivo é ?promover o direitismo na UFRJ zoando e oprimindo esquerdiotas?. Em nova publicação ontem, o ?UFRJ da Opressão? voltou a questionar a causa da morte de Diego, reproduzindo um tuíte com a mensagem ?Morreu um gay: suspeita de homofobia. Morre um negro: suspeita de racismo. Um cara se explode gritando allahu akbar: não vamos nos precipitar?.
Em maio, um e-mail atribuído a um outro suposto grupo de estudantes, a Juventude Revolucionária Liberal Brasileira, intimidava bolsistas: ?Tomem cuidado (…) Vamos começar por um certo aluno que se diz minoria e oprimido por ser homossexual (…). Que gosta de mandar e receber nudes de seus amiguinhos pederastas?.
Por enquanto, ainda não se sabe a real autoria nem quem seriam os integrantes do grupo, que na mesma mensagem aos bolsistas se dizia anônimo. Por outro lado, mesmo grupos considerados conservadores da universidade têm manifestado luto pela morte de Diego. O UFRJ Livre, que se descreve como apartidário, foi um deles. Mesmo sem citar a palavra homofobia, publicou:
?Nosso movimento, junto com toda a comunidade acadêmica, está de luto e indignado com este episódio lamentável e, independente do real motivo do crime, exige o imediato esclarecimento do caso, consequentemente, prisão do responsável ou dos envolvidos; e também exigimos que haja mais segurança no campus, com iluminação e patrulhamento?.
Seis amigos de Diego Vieira Machado prestaram depoimento durante quatro horas na Divisão de Homicídios da Capital nesta segunda-feira, para ajudar a polícia a esclarecer o assassinato do estudante de letras. De acordo com o coordenador do programa Rio Sem Homofobia, Cláudio Nascimento, cinco amigas e um amigo foram convidadas a dar informações sobre fatos acontecidos anteriormente ao crime. O grupo era muito próximo da vítima e convivia com o jovem no alojamento da universidade.
? Eles têm informações anteriores que podem ajudar a polícia a encontrar o criminoso. Pela qualidade do crime, que envolve força bruta, crueldade e humilhação, caracteriza sim crime homofóbico ? disse ele.