Cotidiano

Gasolina sobe 15,5% em um mês e movimento de postos despenca

Cascavel – Taxista há 15 anos, Macema de Lima não tem escolha. Precisa passar no posto a cada dois dias para abastecer o carro. Ele tem de encher o tanque e rezar para que o movimento compense o “investimento”. “Gasto cerca de R$ 1.400 por mês só em combustível. Mas abasteço com o álcool, meu carro é flex e o desempenho dele compensa com etanol. São R$ 10 economizados a cada abastecida, o que faz uma grande diferença no fim do mês. Mesmo assim, está muito caro”.

O consumidor evita ir ao posto de combustível. Quando vai, gasta o mínimo necessário. O que reflete de forma negativa também para o empresário. Em um mês, a queda no movimento chega a 30% no posto de do empresário Roberto Pellizzetti, que também é diretor-regional do Sindicombustíveis e afirma que essa queda ocorreu em todos os estabelecimentos.

“As vendas estão caindo cada vez mais porque a gasolina virou um insumo que foi cortado do gasto diário das famílias, devido ao valor. Os donos de postos estão tentando cortar gastos de todas as formas, porque nossa margem de lucro é pequena: de 12 a 13% bruto e disso tiramos todas as despesas. Na prática, não sobra quase nada”, lamenta Pellizzetti.

O posto dele em Cascavel tem bandeira branca. Mesmo pegando direto do distribuidor, o preço na bomba assusta: R$ 4,59 o litro da gasolina ontem.

O etanol, que estava com o preço em baixa, agora vai subir R$ 0,15 por litro na próxima semana, mesmo em época de safra da cana-de-açúcar e o inverno chegando, quando tudo favoreceria uma queda no preço. “Isso acontece porque são poucas as distribuidoras e elas querem manter o preço o mais próximo possível dos 70% do valor da gasolina”, explica.

Petróleo chega a US$ 80 o barril

A principal causa do aumento tão expressivo da gasolina é o valor do barril de petróleo. Na última quinta-feira, o preço do barril chegou a US$ 80,50 no mercado internacional. No primeiro dia de maio, o barril custava US$ 74,95. Os valores são atualizados em tempo real no site br.investing.com.

Em todo o País, o preço da gasolina e do diesel às distribuidoras sem tributos aumentou 15,5% em maio. A partir deste dia 19, o preço da gasolina deve ser acrescido em 1,34% e o diesel em 0,80%. Os dados são da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

No Paraná, o preço médio pesquisado pela ANP e datado de ontem foi de R$ 4,15 o litro da gasolina, variando entre R$ 3,69 e R$ 4,69 em 907 postos pesquisados.

40% das transportadoras do oeste fecharam as portas

Com o preço do diesel nas alturas e sem conseguir repassar tudo ao consumidor, muitos donos de transportadoras decidiram deixar a atividade. Desde junho do ano passado o preço do diesel subiu mais de 56% na refinaria. Nas bombas, o reajuste passa de 60%. E esse é apenas um dos insumos que compõem o valor do frete, que apenas com o aumento do valor do diesel deveria ser reajustado em 20%, de acordo com o Sintropar (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística). Porém, isso não ocorreu e muitas empresas ainda mantêm o serviço apenas para cumprir contratos.

Na região oeste do Paraná, mais de 40% das transportadoras fecharam as portas. No Brasil, esse índice ficou em 30%. “Isso acontece desde que a Petrobras colocou o cálculo flutuante de acordo com o preço do barril de petróleo. Não conseguimos formar preço porque isso muda diariamente e o tempo todo. E também porque, depois de alguns anos de crise, esbarramos na resistência dos embarcadores de assumir ou pelo menos dividir esse custo conosco. Estamos passando por um momento difícil”, desabafa o presidente do Sintropar, Wagner de Souza.

Segundo ele, o número de trabalhadores autônomos que desistiram da profissão é ainda maior. “Se você tem uma empresa de 20 funcionários, paga pelo menos R$ 50 mil de folha, ainda tem os encargos e com isso chega na casa dos R$ 80 mil. Sem contar o restante. Muitas empresas insistem porque, se parassem as atividades, teriam que encerrar CNPJ, pagar rescisão de funcionários, além dos contratos quebrados”, explica.

Dessa forma, sem o repasse dos custos ao cliente, as empresas estão trabalhando no prejuízo. “Vamos ter que repassar esse valor de alguma forma porque, senão, as empresas vão quebrar. Não tem mais condições”.