SÃO PAULO ? A força-tarefa da Lava Jato investiga se o Consórcio Integra, formado pela Mendes Junior e OSX, pagou propina à ex-ministra Erenice Guerra, que foi secretária-executiva da Casa Civil e chegou a assumir a pasta em 2010, quando Dilma Rousseff deixou o cargo para se candidatar à presidência. O ex-ministro José Dirceu, já condenado pelo juiz Sérgio Moro a 23 anos de prisão, também é investigado.
Dirceu foi citado pelo ex-presidente da OSX Luiz Eduardo Carneiro, que foi preso temporariamente na 34ª Fase da Lava-Jato. Carneiro afirmou em depoimento ter ouvido de Flávio Godinho, advogado e braço direito de Eike Batista, que a empresa Isolux-Contac foi contratada pelo consórcio para atender a um “compromisso” entre o empresário e o ex-ministro José Dirceu. Segundo investigação do Ministério Público Federal, a empresa foi contratada desnecessariamente para prestar serviços ao consórcio, com o objetivo de repassar propina a políticos.
Em outro depoimento, Ruben Maciel da Costa Val, ex-diretor da Mendes Junior, também relata uma determinação superior na empresa para que fosse feita uma parceria com a Isolux no contrato das plataformas P-67 e P-70, obtido pelo Consórcio Integra. Os executivos da Mendes Junior relataram que tinham dúvidas em relação à capacidade da Isolux de realizar serviços relacionados à obra, mas um termo foi assinado entre a empresa e o consórcio.
O contato entre o consórcio e a Isolux teria sido feito por Júlio César Oliveira Silva, que atuou como diretor de novos negócios da empresa de 2010 a 2015. A mulher dele, Antonieta Assis Silva, é amiga de infância de Evanise Santos, ex-mulher de Dirceu, e trabalhou na presidência da República de 2010 até julho de 2016 como coordenadora de relações públicas na Casa Civil.
Júlio César seria o elo entre Dirceu e Erenice, suspeitos de atuar em conjunto.
Em depoimento à força-tarefa antes da deflagração da operação, o ex-executivo da OSX indicou o contrato entre o consórcio e a Isolux ao ex-ministro José Dirceu.
?Na realidade, era um pagamento carimbado para o José Dirceu, então. É a estrutura do José Dirceu, então, não pagar a Tecna e a Isolux era, na realidade, ferir um acordo que foi feito lá na origem?, afirmou.
Era de Júlio César a casa em Brasília onde funciona o escritório de advocacia de Erenice no Lago Sul, em Brasília. Preso temporariamente na Lava-jato, ele afirmou em depoimento ter comprado a casa por R$ 1,85 milhão e criado uma empresa para administrá-la, a Silver. Segundo ele, até dezembro 2015 o escritório da ex-ministra alugava o imóvel. Em junho passado, afirmou, a empresa Silver foi comprada por José Roberto Campos, marido de Erenice, por R$ 2,4 milhões.
Júlio César disse que ainda não recebeu qualquer valor pelo negócio e que o pagamento deverá ocorrer apenas a partir de janeiro de 2017, em cinco parcelas.
Ele é dono de contas na Espanha e Portugal e, no período em que trabalhou na Isolux, a empresa fechou contratos para obras na linha de transmissão Tucuruí-Manaus e em quatro lotes da BR-381.
Esta não é a primeira vez que o nome de Erenice Guerra aparece na Lava-Jato. Ela foi apontada pelo ex-senador Delcídio do Amaral, delator da Lava-Jato, como intermediária na negociação de propina na usina de Belo Monte. Ao lado de Antonio Palocci e do ex-ministro Silas Rondeu, ela teria desviado R$ 45 milhões das obras da hidrelétrica para campanhas do PT e do PMDB.
O empresário Eike Batista, dono da OSX, ter pagado propina ao PT por meio de pagamentos ao marqueteiro do PT, João Santana, em contas no exterior. Espontaneamente, ele procurou a força-tarefa para dizer que havia depositado US$ 2,35 milhões a João Santana a pedido do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.
Carneiro e Júlio César prestaram depoimento no fim de setembro, durante o período de prisão temporária, e já foram soltos. A íntegra dos depoimentos foi anexada ao inquérito que investiga o Consórcio Integra na última sexta-feira.
*Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire