BRASÍLIA – Em julho de 2006, quando foi sabatinada no Senado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra Cármen Lúcia, hoje presidente da Corte, revelou suas ideias e deixou transparecer a profunda admiração que nutria pelo pai, Florival Rocha, revelando a principal lição que recebeu dele: ?Não matar, não roubar, não mentir e não ter preguiça?. Em suas histórias, Cármen Lúcia costuma prestar deferência a ele, de quem se separou precocemente aos 10 anos, quando foi estudar no Sacré-Coeur de Marie, tradicional internato de Belo Horizonte. A ministra voltava para a família em Espinosa, no Norte de Minas Gerais, só nas férias escolares.
Já adulta, Cármen Lúcia costumava visitar o pai com frequência no município em que nasceu e de onde seu Florival, como era conhecido, nunca quis se mudar ? mesmo depois de ficar viúvo, há cerca de 15 anos. Empresário conhecido por todos na cidade, ele foi dono de um posto de gasolina. Em 19 de janeiro, quando o ministro Teori Zavascki morreu, Cármen Lúcia estava em Belo Horizonte, a caminho de Espinosa, mas cancelou a viagem e voltou para Brasília.
Ontem, enquanto Cármen Lúcia estava em Minas, o mais antigo ministro do STF, Celso de Mello, que é amigo da filha mais famosa de seu Florival ? que teve outros seis filhos ?, prestou uma homenagem na sessão plenária do Supremo:
? Eu desejo registrar a ocorrência de um acontecimento infausto. Um acontecimento verificado no dia de hoje. Refiro-me à perda, sempre lamentável, de uma pessoa cuja existência foi longa, frutuosa e virtuosa. Trata-se do pai da eminente senhora presidente do Supremo Tribunal Federal, o senhor Florival Rocha. Eu desejo externar à eminente senhora presidente desta Corte Suprema e a todos os seus familiares a nossa solidariedade, a nossa simpatia nesse momento particular de muita dor e de sensação terrível de perda.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, outro amigo de Cármen Lúcia, também lamentou a morte:
? Todos nós apresentamos à sua excelência e aos seus familiares as condolências. Nesta hora de profundo pesar, nos associamos a este momento doloroso.
No fim de semana, a ministra conseguiu concretizar o plano de visitar o pai e se despediu dele, que estava doente há pelo menos um mês. Seu Florival morreu na madrugada de ontem, aos 98 anos. A prefeitura de Espinosa decretou luto oficial de três dias.
A família não informou a causa da morte e pediu discrição neste momento. Ontem, a previsão era de que o corpo fosse velado e enterrado em Belo Horizonte, na presença de parentes.