Poderia ter sido apenas uma sessão de cinema com a presença de dois presidentes. No entanto, a visita de Vladimir Putin à capital do Cazaquistão, Astana, ficou marcada pelo encontro com o presidente local, Nursultan Nazarbayev, no qual ambos assistiram a um filme sobre a resistência soviética à invasão alemã em 1941. E não demorou para que a veracidade da obra ? apontada pela imprensa como uma nova arma do presidente russo para impulsionar o orgulho nacional ? fosse colocada em xeque. Putin
?Dvadtsat vosem panfilovtsev? (?Os 28 de Panfilov?, em tradução livre) se baseia em um incidente no qual uma unidade do Exército Vermelho, composta principalmente por cazaques e quirguizes, teria enfrentado uma coluna do Exército alemão em Dubosekovo, destruindo 18 tanques antes que todos os seus integrantes morressem. Em 1942, os membros do grupo receberam o título de Heróis da União Soviética, e foram homenageados com diversos monumentos, incluindo um na maior cidade do Cazaquistão, Almaty.
No entanto, investigações posteriores ? incluindo um relatório oficial compilado em 1948 por um juiz militar ? sugerem que o evento foi, no mínimo, exagerado, se não absolutamente fabricado. Ao menos seis soldados sobreviveram, e um deles, Ivan Dobrobabin, foi degredado por ?traição à pátria? após se render.
O relatório de 1948 foi divulgado pelos arquivos públicos em 2015, quando a produção do filme já havia começado. De acordo com o ?Moscow Times?, o produtor e codiretor Andrey Shalopa protestou, alegando que a divulgação dos documentos era ?uma tentativa de minimizar o heroísmo nacional que só serviria para enfraquecer os alicerces morais da sociedade?.
Com um orçamento de 34 milhões de rublos (cerca de R$ 1,735 milhão), captado por meio de financiamento coletivo, o filme chega às telas russas no dia 24 de novembro. Ainda não há previsão de estreia no Brasil.