Cascavel – Diante de uma das mais agudas crises da história nacional, as famílias brasileiras são obrigadas a fazer ajustes pesados em suas contas para não falir. E, aos poucos, elas estão conseguindo sair do aperto, disse na noite de quinta-feira, na Acic, o doutor em Economia Jandir Ferrera de Lima. O governo deve, humilde e conscientemente, seguir o exemplo para tirar o País do fundo do poço, afirmou o professor durante a palestra Novas perspectivas econômicas para o Brasil.
O cenário de dificuldades resulta de políticas equivocadas e populistas adotadas principalmente nos últimos anos e que exigem, agora, profundas mudanças de postura principalmente por parte dos políticos, acentuou Jandir. O governo não entendeu e ou quis entender sinais de problema evidenciados pela própria economia. Em 2010, com crédito atrativo, fácil e abundante, o crescimento do PIB chegou a 7,5%. No entanto, sob forte influência da depressão econômica mundial iniciada em 2008 nos Estados Unidos, o Brasil entrou em rota de colisão econômica.
A União, no Governo Lula, deu incentivos aos setores automobilístico e de eletrodomésticos e, em contrapartida, fez renúncias fiscais significativas. Com despesas em alta e redução dos níveis de arrecadação, o governo precisou elevar impostos. Simultaneamente, os brasileiros descobriam, por meio da Lava Jato, os números de um dos maiores escândalos de corrupção da história.
A instabilidade política deu um empurrão na crise, conforme Jandir, e a desconfiança generalizada formou um ambiente de enormes desafios. Uma das consequências foi o endividamento das famílias. Em 2015, 61% delas estavam em dificuldades. Na maioria são formadas por pessoas com idades entre 18 e 30 anos. Há cinco anos, o consumo das famílias cresceu 10% (2010) e em 2015 recuou 4%.
O crescimento inflado por medidas sem consistência apresentou efeitos colaterais, como inadimplência, devolução e perdas de bens. Com o aumento do desemprego, que já alcança 12 milhões de pessoas, as famílias foram obrigadas a rever prioridades. Elas pararam de comprar supérfluos e cortaram pequenos luxos, atingindo em cheio o setor de serviços. Com o consumo só do essencial, elas fizeram o seu ajuste. Agora, na metade de 2016, o índice de endividamento caiu de 61% para 59%, apontou o professor. O governo Dilma tentou, recentemente, empregar a mesma fórmula do antecessor, facilitando o acesso ao crédito, mas a medida fracassou. A economia levou um tombo enorme, com encolhimento do PIB apenas em um ano em quase 4%.
Mudanças
No ano de 2012, o crescimento da receita pública foi de 34%, contra avanço de 53% nas despesas. O buraco nas contas públicas é um temor à parte, conforme Jandir. Hoje ela está nas mãos dos bancos e de fundos de pensão e de investimento. Com a pulverização, todos pagarão a conta caso as medidas de recuperação econômica não funcionem. Os cortes do governo em sua própria estrutura, com redução de ministérios por exemplo, ainda estão muito distantes do necessário. O Brasil gasta muito e mal, afirmou o professor, que entende a urgência de reconsiderações quanto à Previdência Social e à desvinculação de gastos. Os privilégios precisam ser efetivamente combatidos, afirmou Jandir.
Incógnitas e estimativas ao dólar
As disputas políticas e as tentativas de barrar investigações também prejudicam o bom andamento da recuperação econômica. No entanto, a desconfiança já não é tão grande quanto ligeiramente anterior ao afastamento da presidente Dilma. Há incógnitas que dificultam a formulação de perspectivas, como do próprio impedimento definitivo e dos efeitos das medidas anunciadas pela equipe do ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Um bom sinal, no entanto, é que a inflação prevista para 2016, de 9%, deverá fechar na casa dos 7%, No entanto, precisa ficar abaixo de 6,5% para que o Banco Central possa iniciar a redução da taxa de juros.
Com a Selic alta, manter dinheiro rendendo no banco é melhor negócio do que empreender ou construir. E a economia só cresce se o dinheiro, em vez de guardado, circular e passar por várias mãos. Há estimativas de que o dólar feche o atual exercício em R$ 3,34 e estabilize em R$ 3,50 no fim de 2017. Jandir informou também que há boas notícias para a economia do Oeste. Uma delas é que o desemprego parou de avançar e que os preços das commodities, valorizadas, ajudam a trazer dinheiro. No ano passado, o saldo em Cascavel foi de US$ 200 milhões. E apenas nos primeiros meses de 2016 é de US$ 105 milhões, com expressivo crescimento das exportações da área da metalmecânica. Os principais parceiros comerciais do Oeste são China, Paraguai e Arábia Saudita.