Cotidiano

Ex-escravas sexuais do Estado Islâmico ganham prêmio europeu de Direitos Humanos

nadia.jpgBRUXELAS ? O Parlamento Europeu concedeu nesta quinta-feira o prêmio Sakharov de Direitos Humanos às iraquianas Nadia Murad e Lamiya Aji Bashar, duas mulheres yazidis que sobreviveram à escravidão sexual pelo Estado Islâmico (EI) e se tornaram porta-voz de vítimas de violência sexual.

Os outros finalistas eram o jornalista turco exilado Can Dundar, preso no ano passado pelo governo de Ancara por difundir imagens do contrabando de armas dos serviços de inteligência turcos aos rebeldes na Síria, e o dissidente soviético defensor dos direitos do povo tártaro Mustafa Dzhemilev.

As jovens yazidis tornaram-se ícone de sua comunidade ameaçada, e suas histórias se entrelaçam pelas atrocidades vividas nas mãos de jihadistas.

Tanto Nadia, de 23 anos, e Lamiya foram sequestradas na cidade onde viviam, Kocho, perto de Sinjar, no Norte do Iraque. Ambas foram escravas sexuais e conseguiram escapar para a Alemanha.

Depois de ser raptada em agosto de 2014, Nadia foi levada a força a Mossul, reduto do EI e atual alvo de uma ofensiva do Exército iraquiano e da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

Ela foi torturada e sofreu múltiplos abusos sexuais coletivos antes de ser vendida várias vezes como escrava sexual. Além disso, teve que renunciar à sua fé yazidi, uma religião ancestral praticada por meio milhão de pessoas no Curdistão iraquiano e renegada pelo Estado Islâmico.

? O primeiro que fizeram foi nos forçar a converter ao Islã. Depois, fizeram o que quiseram ? relatou Nadia há uns meses à agência AFP.

Graças à ajuda de uma família muçulmana de Mossul, a jovem, que diz ter perdido seis irmãos e sua mãe no conflito, conseguiu documento de identidade que lhe permitiu chegar a um campo de refugiados no Curdistão iraquiano. De lá, ela recebeu assistência de uma organização dos yazidis e depois foi ao encontro da irmã na Alemanha.

Lamiya foi raptada quando tinha 16 anos. Durante 20 meses no cativeiro, ela tentou escapar em várias oportunidades. Quando realmente conseguiu, a jovem caiu nas mãos de um diretor de um hospital iraquiano que também a abusou.

O rosto de Lamiya, que tem a pele queimada, leva as marcas da explosão que lhe custou o olho direito.

Pouco depois de chegar à Alemanha, Nadia decidiu militar a favor de sua comunidade: segundo especialistas da ONU, 3.200 yazidis estão atualmente nas mãos do EI, a maioria na Síria. As mulheres são convertidas em escravas sexuais e, os homens, após serem doutrinados, enviados ao combate.

Nadia reivindica que a perseguição sofrida por sua comunidade seja considerada um genocídio e cobrou mais ação da comunidade internacional. Desde setembro, ela é embaixadora da boa vontade da ONU e luta a favor da proteção das vítimas de tráfico de pessoas.

Já Lamiya vive com sua irmã na Alemanha, onde busca refazer a vida. Ela quer ser professora e permanecer no país que lhe concedeu asilo.

O Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento é atribuído todos os anos pelo Parlamento Europeu a pessoas que tenham contribuído para a luta em prol dos direitos humanos em todo o mundo.