O caminhão faz o retorno em uma rodovia duplicada e bem sinalizada da Flórida. Da direita, vem um automóvel que não diminui a velocidade. O choque é violento: o sedã perde a capota sob o chassi da carreta e, mesmo assim, continua andando por mais 400 metros até bater em um poste telefônico.
Foi assim que ocorreu, em 7 de maio, o primeiro acidente fatal com um veículo autônomo ? ou, no caso, o semi-autônomo Tesla Model S. Em frente ao volante (mas não necessariamente no comando do carro) estava o ex-mariner Joshua Brown, de 45 anos, entusiasta da tecnologia. Segundo um relato do motorista do caminhão à Associated Press, Brown assistia um filme de Harry Potter no momento da batida (o DVD player continuou funcionando após o acidente).
O caso ainda está sendo investigado pelo NHTSA, órgão que cuida da segurança de trânsito nos Estados Unidos. A principal hipótese é de que dispositivo Autopilot, que dirigia o Tesla na hora da colisão, não conseguiu diferenciar a enorme carreta-baú branca do céu claro. Confundido, o computador não freou o carro, matando seu dono.
Desde então, pipocam na imprensa casos de pequenos acidentes envolvendo os Tesla S. Dispositivos de direção autônoma passaram a ser vistos como vilões.
Antes de comparar os carros autônomos a HAL 9000, o computador assassino do filme ?2001 ? uma odisseia no espaço?, vale conhecer algumas características técnicas e operacionais desses sistemas que, já na próxima década, farão parte de nossas vidas. Para começar, é importante saber que a corrida pelos carros autônomos tem se dado por dois caminhos: o da Google e o da Tesla. São filosofias e métodos bem distintos.
PARA A GOOGLE, O PROBLEMA SÃO AS PESSOAS
A Google aposta em veículos 100% autônomos, eliminando totalmente a necessidade de um motorista humano. A ideia é que o ocupante do veículo informe seu destino e, a partir daí, não tenha qualquer controle sobre a máquina, que assumirá todas as funções ? os protótipos do Google Car não têm volante ou pedais.
A empresa aposta em inteligência artificial, que permitirá aos carros acumularem conhecimento trocando informações entre si. Além disso, os protótipos da Google usam o LIDAR (Light Detection And Ranging), espécie de radar sensível à luz, que usa laser para criar uma versão virtual em 3D do mundo à sua volta.
Capaz de se localizar com uma precisão de 10cm em um mapa pré-existente (e a Google tem sido boa na arte em mapear todas as ruas do planeta), o LIDAR é considerado a melhor tecnologia para carros autônomos. Seus inconvenientes são o preço, que passa de US$ 80 mil, e o funcionamento irregular em situações de chuva forte, neblina ou neve.
Por ora, a Google apenas testa seus carros. Seu objetivo é pôr os veículos 100% autônomos nas ruas em 2020 (se a legislação permitir) e, quem sabe, ter o monopólio na área, fornecendo seus dispositivos aos grandes fabricantes de veículos.
TESLA NÃO DISPENSOU O MOTORISTA
Para o visionário Elon Musk, dono da fábrica de automóveis elétricos Tesla, o futuro é aqui e agora. Para não perder tempo na busca de um carro 100% autônomo, passou a equipar seus carros, em outubro de 2015, com o Autopilot. Sozinho, o sistema tira o carro da garagem e, em rodovias, acelera, freia e faz curvas, mantendo o carro na faixa. Mesmo assumindo até 90% das funções da direção, é tratado como um auxiliar do motorista humano ? este continua indispensável.
A inspiração veio dos pilotos automáticos usados na aviação, que fazem quase tudo durante o voo, mas dependem de um comandante de carne e osso.