Cotidiano

Ensino médio é etapa que apresenta maior dificuldade na inclusão de deficientes

RIO- A inclusão de alunos com algum tipo de deficiência em escolas do Brasil encontra barreiras desde o início da escolarização, mas é no ensino médio que a dificuldade se torna ainda maior. De acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto Unibanco, o índice de alunos incluídos vai caindo ao longo da trajetória escolar até chegar em um percentual de 0,8% das 8 milhões de matrículas do ensino médio. Entre os motivos, os pesquisadores destacam a falta de preparo das escolas para acolher esses estudantes e os entraves da própria configuração pedagógica dessa etapa.

Embora o número de alunos com algum tipo de deficiência no ensino médio tenha triplicado nas escolas públicas e particulares do país nos últimos dez anos, a etapa é a que tem menos alunos incluídos proporcionalmente. No primerio segmento do esnino fundamental esses estudantes são 2,9% do total de matrículas. No segundo segmento, o índice cai para 1,8% e no ensino médio chega aos 0,8% do total, o que corresponde a 62.167 matrículas.

– A abordagem pedagógica se torna mais difícil no segundo segmento do ensino fundamental e no ensino médio devido ao grande número de disciplinas. É necessário ter uma escola com capacidade de acolher pessoas com deficiência. Além disso, a cultura de reprovação que existe em geral na escola brasileira vai retendo as pessoas com deficiência nas séries inicais- explica o superintendente executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques.

A pesquisa explica que o modelo atual do ensino médio com um número grande de disciplinas e focado na preparação para o vestibular, com “práticas pedagógicas massificadoras” contribuem para que o desafio de ter acesso á educação sejam ainda maior para os jovens com deficiência.

Em 2007, o índice de alunos com algum tipo de deficiência no ensino médio em relação ao número total de matrículas era apenas de 0,2%. Em 2011, o percentual era 0,4%. O crescimento ao longo dos anos, de acordo com o relatório, foi impulsionado por políticas públicas voltadas para essa parcela da população.

O estudo cita como um dos pilares para essa evolução a “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”, aprovada em 2008. O texto estabelece diretrizes a serem trabalhadas para garantir direitos das pessoas com deficiência, como direito à Atendimento Educacional Especializado (AEE),que compreende uma série de atividades, com recursos de acessibilidade e pedagógicos, para complementar a formação de pessoas com deficiência.

– É preciso que a escola tenha uma liderança que permita organizar o cotidiano da escola de forma a ter uma inclusão produtiva. Não pode ter um tratamento de segunda categoria pra esse jovem. É necessário ter uma abordagem de alta expectativa para as pessoas com deficiência- argumenta Henriques.

Entre os eixos fundamentais para garantir uma educação inclusiva, a pesquisa cita a importancia de salas de recursos multifuncionais e da atuação de profissionais capacitados.

– O Atendimento Educacional Especializado é um serviço estruturado a partir da Politica Nacional de Educação Especial. É um serviço que tem um papel importante para apoiar o professor e o próprio estudante na eliminação das barreiras que existem na escola. A ideia é que a escola conte com o apoio desses profissionais e que ele esteja na escola e ajude a eliminar barreiras- explica o Rodrigo Mendes, diretor executido do Instituto Rodrigo Mendes, que atua na promoção de educação de qualidade para pessoas com deficiência.

O estudo traz ainda um dado considerado positivo pelos pesquisadores: cerca de 98% dos 62 mil alunos incluídos no ensino médio estão em classes regulares, em contato com outros jovens. Mas destaca que, apesar da legislação e das políticas públicas existentes orientarem para inclusão desses alunos em turmas regulares, eles acabam esbarrando em problemas relacionados à baixa qualidade da educação básica em algumas escolas.

“A principal (questão) é o baixo nível de aprendizagem ao longo do ensino fundamental, cujas consequências, muitas vezes, são a reprovação e o abandono da escola. Tal movimento não se restringe aos estudantes com deficiência, transtornos globais ou com altas habilidades, mas as barreiras tendem a ser maiores para esta população”, destaca a pesquisa.