SÃO PAULO – Quando Rodrigo Santoro entra em cena, no primeiro capítulo de “Westworld”, que vai ao ar pela HBO no dia 2 de outubro, às 23h, ele sai atirando para todos os lados. O ator faz o papel de Hector Escobar, um caubói fora-da-lei e fora dos padrões em um faroeste que não tem nada de faroeste. Escobar, como muitos outros personagens da série de ficção científica de Jonathan Nolan e Lisa Joy, está entre os “anfitriões” cibernéticos de um parque de diversões temático em que os “hóspedes” humanos passam por experiências imersivas nas quais podem realizar suas mais loucas fantasias.
? Eu ainda estou entendendo quem é o Escobar ? disse Santoro, que passou por São Paulo para promover o lançamento da série, em entrevista ao GLOBO. ? No parque, ele faz o papel do fora-da-lei mais procurado. Foge dos padrões tradicionais do caubói, pelo modo como fala e pela essência do que fala. Tem uma veia filosófica e apocalíptica. Uma das teorias reza que o Velho Oeste é um mundo muito violento e a única forma de sobreviver nele é sendo um predador. Tem uma embalagem de caubói fora-da-lei, mas é apenas isso: uma embalagem
A série tem inspiração em “Westworld – Onde ninguém tem alma” (1973), roteirizado e dirigido pelo escritor e cineasta americano Michael Crichton (1942-2008). No filme, dois amigos decidem ir a Delos, um parque temático dividido em três mundos, a Roma Antiga, a Idade Média e o Velho Oeste, todos povoados por robôs perfeitos. Eles escolhem a ambientação de um faroeste para participar de duelos, perseguições e viver outras aventuras. Mas são surpreendidos pelo mal funcionamento dos androides, que não deveriam fazer mal aos humanos, mas acabam matando todos os visitantes e passam a persegui-los.
Nolan e Joy, os autores da nova série, absorveram do filme apenas a ideia do parque temático, da inteligência artificial e da experiência imersiva dos visitantes. O que muda, diz Santoro, é a perspectiva:
? Inverte. No filme, o ponto de vista era do hóspede. Agora, é do anfitrião, através do olhar de Dolores, personagem de Evan Rachel Wood, o robô mais antigo do parque.
Em boa parte da primeira temporada, a ambientação da série está restrita ao Velho Oeste, mas isso também deve mudar. O ator brasileiro deu uma dica um tanto enigmática sobre esse assunto:
? Por enquanto, estamos no faroeste. Já senti cheiro de outras coisas no ar. Não é como no filme, mas é como se aquele mundo fosse cheio de gavetas. Tinha isso? Tinha… É uma outra porta ali que você ainda não entrou. A série vai aprofundando e revelando as coisas. Vai para vários lugares.
Nas primeiras exibições do episódio piloto nos Estados Unidos, “Westworld” foi criticado pelas doses exageradas de violência, especialmente contra as mulheres e os índios. Santoro explica que o componente está plenamente justificado:
? A série explora tudo aquilo que é secreto, que é reprimido, porque socialmente você acaba não colocando as coisas pra fora. Sabemos da complexidade do ser humano. Sabemos desse poço sem fundo e complexo que somos. O que a série faz é se debruçar sobre isso. Basta abrir o jornal e ver o noticiário policial para ver o apetite do ser humano pela violência. Claro que isso tem uma força e é colocado na série, mas como estudo e não como apologia. Vai para lugares mais obscuros da nossa natureza.