NITERÓI – Alvo de pesadas críticas do prefeito Rodrigo Neves (PV) nos últimos três anos e meio, Jorge Roberto Silveira ressurgiu na cena política niteroiense ao comandar o anúncio do apoio de seu PDT à reeleição do antigo desafeto. O apoio, entretanto, não zera as rusgas do passado: em discurso repleto de menções às acusações feitas por Rodrigo, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, fez um desagravo ao líder do partido na cidade. Ele e Jorge Roberto elogiaram o atual governo por ?dar continuidade? aos projetos implementados nas gestões pedetistas. Rodrigo, por outro lado, mostrou-se pouco à vontade na maior parte da cerimônia, na sede do PDT, mas, ao discursar, adotou um tom de esquerda que agradou aos militantes do partido, que é uma das principais forças políticas na defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff, alvo de um processo de impeachment.
A cerimônia, realizada na quarta-feira passada, marcou o ápice de uma reaproximação iniciada há nove meses, quando Rodrigo atuou pessoalmente junto à base do governo na Câmara dos Vereadores pela aprovação das contas de Jorge Roberto em seu último ano de governo, 2012, mesmo com parecer contrário do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ). Em março, Rodrigo e Jorge passaram a se encontrar para negociar a aliança. Antes de decidir ir para o PV, o prefeito chegou a cogitar deixar o PT rumo ao PDT, mas a má recepção fez com que a ideia fosse descartada. Os dois dão versões diferentes para a negociação. Rodrigo Neves diz que não rejeita apoios, mas mantém as críticas feitas à gestão anterior, sobretudo referentes ao último mandato.
? Eu acho que a última gestão dele foi muito ruim, não abro mão das minhas posições. Mas é inegável que, antes, ele fez dois mandatos positivos para a cidade. Estou recebendo apoio do PDT; não estou dando meu apoio. O povo de Niterói é esclarecido e sabe a importância desse gesto, de trazer as principais lideranças políticas para proteger Niterói dessa crise ? afirma.
Jorge, entretanto, dá versão diferente. Segundo ele, foi Rodrigo quem o procurou para propor a aliança, que define como coerente.
? Na política você tem adversários, mas não deve criar inimigos. Pode ter críticas aqui ou ali, mas, a rigor, quando ele me procurou para nós conversarmos, senti como uma homenagem a mim, ao nosso governo e ao partido. Não havia qualquer constrangimento porque não era uma coisa incoerente ou fisiológica ? disse Jorge Roberto, antes de completar. ? Se você comparar nossos governos ao dele vê que há diferenças muito pequenas. O que havia antes eram discursos mais radicais (de Rodrigo) para mostrar que era outro governo.
Segundo fontes que estiveram próximas de ambos durante a negociação, alguns gestos simbólicos de Rodrigo foram decisivos para o acordo. Nos últimos tempos, Rodrigo teria diminuído o tom das críticas a Jorge Roberto. Em discurso recente sobre o Museu de Arte Contemporânea (MAC), por exemplo, chegou a citar o pedetista como criador do mais famoso símbolo da cidade. Outra atitude bem-vista no PDT foi a decisão de batizar uma das galerias do túnel Charitas-Cafubá com o nome do ex-prefeito João Sampaio, um dos principais expoentes do partido na cidade.
Em discurso empolgado, Lupi chegou a lançar o nome de Rodrigo para uma candidatura ao governo do estado em 2018. Segundo ele, esse é um caminho natural da aliança.
? A vitória de Rodrigo no primeiro turno é o caminho para nos livrarmos dessa praga no estado que é o PMDB ? destacou o cacique, que rompeu com Pezão para se candidatar ao Senado, em 2014.