BUENOS AIRES ? Na próxima segunda-feira, o presidente Michel Temer receberá, como espera, um firme gesto de apoio do chefe de Estado argentino, Mauricio Macri, na primeira visita que fará a outro país da região depois de ser confirmado no cargo. Fiel à postura que teve durante todo o processo de impeachment, Macri disse nesta quarta-feira, em entrevista a jornais brasileiros, que ?internamente pode haver diferentes opiniões, ou dirigentes na América Latina podem pensar diferente. Do ponto de vista institucional, o país seguiu todos os passos que correspondem?.
Perguntado sobre a posição de países como Venezuela, Bolívia e Equador, que sustentam a teoria de um golpe no Brasil, Macri foi enfático:
? Não estou de acordo? Acho que a Justiça é um poder independente, leva adiante investigações, geraram um impeachment, o Congresso votou. Acho que as instituições funcionaram.
O presidente argentino lembrou que, durante a campanha em seu país, no final do ano passado, visitou a ex-presidente Dilma Rousseff.
? Convenhamos que está governando o vice-presidente da legenda do PT que ganhou a eleição passada. Desse ponto de vista, independentemente de quem (Temer) tenha convocado para o gabinete, é uma continuidade. Não importa o que ocorreu na coalizão governante. Vamos sempre ter uma atitude de respeito ? comentou Macri, que, durante toda a entrevista, expressou seu desejo de trabalhar ?em conjunto? com o governo brasileiro, principalmente para revitalizar o Mercosul e captar investimentos estrangeiros para a região.
? A primeira pessoa que visitei foi Dilma Rousseff para trabalhar em conjunto, independentemente da afinidade política, pois eles tinham apoiado explicitamente o candidato (à Presidência) Daniel Scioli, de Cristina Kirchner. Brasil e Argentina estão acima da política conjuntural. Posso trabalhar com quem o Brasil decidir que governa ? assegurou o chefe de Estado.
Semana passada, Macri recebeu a visita do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para o presidente argentino ?a figura mais relevante da política brasileira dos últimos 20 anos?. O encontro, disse Macri, ?foi muito bom, sinto muita admiração pelo que ele fez no Brasil?.
A visita de Temer a Buenos Aires durará em torno de cinco horas e incluirá a presença de vários ministros do gabinete brasileiro. No mesmo dia, o presidente ainda irá ao Paraguai. A viagem não inclui uma parada no Uruguai, país que, desde o começo, questionou o impeachment de Dilma Rousseff. Embora o governo Tabaré Vázquez tenha deixado claro que considerou o processo ?injusto?, o presidente reconheceu o novo mandatário brasileiro, com quem se encontrou em Nova York para uma reunião bilateral na semana passada. Já o presidente do Paraguai, Horacio Cartes, adotou uma postura similar à de Macri.
? O Brasil está atravessando um processo crítico no qual está repensando a forma de fazer política? considero que o Brasil sairá fortalecido. É um processo institucional que vai potencializar todas as qualidades do Brasil. Espero que no dia 3 de outubro, com a visita do presidente Temer, ratifiquemos a vocação de dar impulso ao Mercosul ? afirmou o chefe de Estado argentino.