BRASÍLIA – Na avaliação feita com os poucos deputados que estiveram na residência oficial da Câmara para prestar solidariedade, o presidente afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) debitou sua derrota ontem no Conselho de Ética ao que chamaram de maldição do impeachment. Segundo relato dos deputados que o visitaram ontem, apesar do baque e da surpresa, ele não jogou a toalha, continua o ice-man de sempre e ainda aposta em maioria para mudar o resultado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Seus aliados, entretanto, acham que não tem mais saída e será uma avalanche no plenário.
Mesmo sem confessar verbalmente arrependimento, Cunha avalia que se tivesse feito um acordo com o PT quando da abertura do processo de sua cassação no Conselho e não tivesse encaminhado o processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, não estaria passando por isso.
– Estou pagando um preço muito alto pelo impeachment. Nunca o estado atuou de forma tão violenta como está atuando contra mim e minha família: o Judiciário, o banco Central, a Receita. Se tivesse feito o acordo com o PT lá atrás, não estaria passando por isso. Houve uma retaliação muito grande por causa do impeachment – avaliou Cunha nas conversas com os aliados, lembrando que o ex-presidente Lula e o ex-ministro Jaques Wagner queriam o acordo para barrar a abertura do processo de impeachment, mas Dilma não aceitou.
– É a maldição do impeachment. O Ibsen também aprovou o impeachment de Collor e depois foi cassado – completou um dos deputados presentes na conversa com Cunha.
Sobre a possibilidade de reverter a derrota com recursos na Comissão de Constituição e Justiça, Cunha demonstrou aos aliados ser sua última trincheira para tentar evitar a votação no plenário. Disse que se fosse num palco imparcial, sem pressão da mídia e população, ele teria chances de provar nulidades na relatoria do deputado Marcos Rogério (DEM-RO). Seus aliados não tiraram sua esperança na conversa, mas acham que não tem mais jeito.
– Saída não tem mais. A visão dos deputados que apoiam Cunha na CCJ era uma antes da derrota no Conselho e outra hoje, depois da derrota. Ele vai perder apoio também na Comissão. E no Plenário vai ser uma avalanche – avaliou um dos deputados que votaram ontem contra a cassação e depois foram visitar Cunha em sua casa.