CARACAS Em menos de 24 horas, a Venezuela registrou 20 protestos por conta da falta de alimentos. Nos últimos dias, supermercados vêm sendo saqueados em episódios violentos. O país vive uma grave crise econômica que inclui a escassez de itens básicos e a elevada inflação , além de um momento de alta ternsão política entre governo e oposição.
A imprensa local relata que os protestos começaram tímidos na manhã de quinta-feira, mas se tornaram mais intensos durante a tarde. Durante a noite e a madrugada, moradores de Mucuchíes, no estado de Mérida, foram reprimidos pela Guarda Nacional Bolivariana, que dispersou protestos com gases lacrimogênios e disparos.
Outros protestos foram registrados em diversos pontos do país. O ponto de concentração mais comum é a porta de supermercados. Houve diversos novos saques às prateleiras dos estabelecimentos e caminhões de abastecimento. Professores e alunos universitários também se manifestaram em San Pablo de Mendoza e Maracay. 'Meu filho chora por comida. O que vou fazer?', diz homem em protesto na Venezuela
SUPERMERCADOS FECHAM AS PORTAS
Em algumas regiões, foram poucos os supermercados que abriram as portas para vender os produtos que ainda restavam nas prateleiras com medo de serem saqueados.
Em Cumaná, capital do estado de Sucre, muitas pessoas dizem que não têm o que comer. A cidade costeira de 800 mil habitantes vive uma semana de tensão após o saqueamento de cem estabelecimentos comerciais ter deixado 3 mortos, 10 feridos e 400 presos.
Caminhei por todos os lados e não consigo nada. Nem as vinícolas querem abrir com medo de saques disse Rafael Márquez, morador local, ao El Nacional.
Padarias, supermercados e serralherias foram destruídos na terça-feira, que começou como um protesto por comida, no qual motoristas inicialmente assaltaram caminhões com mantimentos, segundo testemunhas.
Os roubos na cidade de Cumaná evidenciaram a onda de violência que está tomando as manifestações por alimentos na Venezuela, um fator que o governo atribui à oposição e que poderia radicalizar o presidente Nicolás Maduro.
“O balanço é de ruína total porque os comércios foram saqueados não somente em seus estoques, mas também em seu mobiliário. Foi uma destruição total”, disse Rubén Saud, presidente da Câmara de Comércio de Cumaná.
Banhada pelo mar do Caribe, Cumaná é o epicentro mais recente de manifestações pela severa escassez de alimentos, que em meados de maio começaram a se estender por várias regiões e em junho, particularmente, terminaram em violência.
Segundo o Observatório Venezuelano de Conflito Social, nos primeiros cinco meses de 2016 foram registrados 254 roubos ou tentativas de roubo, sendo maio o mês de mais incidência, com 88 casos. A falta de alimentos básicos é de 80%, segundo a empresa Datanálisis.