Cotidiano

Eleições gerais já

A política, num país democrático, é o melhor caminho para a concretização dos sonhos coletivos. Isto é um fato e uma verdade. No entanto, com a indecência preponderando, com a multiplicidade de tolas ideias conflitantes, com a gravidade dos problemas econômicos e sociais, estabeleceu-se um grande tumulto de opiniões inconclusivas.

Desconfio, entretanto, que um tênue fio de luz esclarecedora possa surgir do ensinamento de velhos mestres, já esquecidos. Refiro-me àqueles que conheci: Alceu de Amoroso Lima, Raul Pilla, Franco Montoro, Ulysses Guimarães, Afonso Arinos e Tancredo Neves. Além de sólida cultura filosófica, histórica, jurídica e literária, também militaram na política com sucesso e exemplar testemunho. O que os distinguia dos demais? O que me leva a lembrá-los como sinais de uma possível alternativa para a nossa pátria? Em primeiro lugar, a elegância de conduta, a dignidade pessoal e o patriotismo de todos eles ? líderes nacionais. Depois, com o auxílio de uma única palavra autoesclarecedora, procuro resumir a bandeira de luta de cada um: Alceu, a ética; Pilla, o parlamentarismo; Montoro, a solidariedade; Ulysses, a persistência; Arinos, a independência; e Tancredo, a democracia. Como eles fazem falta hoje em dia…

Não tratavam de metas mensuráveis por estatísticas: baixar a inflação, diminuir o desemprego, crescer a produção. Não. Lidavam com princípios, pressupostos que, se adotados pela maioria da população, conduziriam inevitavelmente o Brasil ao desenvolvimento integral, à educação de qualidade, à justiça social, à proteção ambiental, à paz internacional. Eles estavam certos, perceberam a sabedoria da construção humanista da história e dela foram protagonistas. Seus chamamentos, aos quais as pessoas na sua maioria aderem pelo simples fato de serem um apelo lógico e natural à essência do humano: a liberdade cooperativa.

É tudo muito diferente do que hoje se percebe no mundo político: pobreza intelectual, amoralidade, corrupção sistêmica, egoísmo, mentira institucionalizada, prevalência do individualismo. O pior é que os atuais políticos se consideram ungidos pela racionalidade e objetividade ? só eles sabem interpretar e operar a máquina da política. Ninguém mais. Quem pensa ao contrário é afastado e desmerecido com raciocínios simplistas do tipo: é um sonhador ingênuo, não percebe que o povo é imediatista e pensa ?com o estomago e com o bolso?, os políticos é que sabem como conciliar os sonhos com a realidade, pois só eles são realistas… O eleitorado deixa-se levar pela demagogia sedutora dos marqueteiros amorais a serviço da política ? que vendem de sabonetes a candidatos.

Triste o futuro que nos aguarda nas mãos dessas pessoas desonestas e irresponsáveis ? que não sabem sonhar nem aliviar os sofrimentos da sociedade. Não propõem nada de novo para solucionar os graves problemas que o futuro claramente aponta, pois são incompetentes e corruptas. Será que a atual classe política dominante esperará para sair de cena até o instante em que a sociedade, em fúria, a ponha para correr debaixo de bofetões? Saibam que o povo brasileiro está muito próximo desta medida extrema. Uma revolução anárquica, sem bandeira e sem liderança, mas, certamente, um radical basta ao deboche institucionalizado que impera.

Por tudo isso é que continuo a insistir, acreditando que, apesar de ser processo de difícil condução, que a melhor solução para a nossa pátria será a de eleições gerais já, para o nível federal. Alertado pela gravidade da atual situação e dos últimos acontecimentos, o eleitorado saberá votar com sabedoria e responsabilidade: poucos partidos novos, caras novas honestas e competentes, no Legislativo e no Executivo, tendo como guias de suas vidas publicas os pressupostos da dignidade, da ética, da justiça social, da liberdade e da democracia que nossos antepassados nos legaram. Precisamos, sob pena de nos esfacelarmos como nação, voltar a sonhar e saber tocar a realidade com a luz dos nossos sonhos.

Eurico Borba é escritor e foi presidente do IBGE