Cotidiano

É preciso estimular competição de energia solar, diz especialista

BRASÍLIA – A expansão da geração de energia solar não ocorre de um ano para outro, mas uma vez conhecida e instalada a tecnologia, ela tende a se disseminar mais rapidamente por conta dos ganhos de escala e a consequente redução dos preços. Quem explica esse fenômeno é Arthur Haubenstock, vice-presidente da maior empresa de soluções em energia solar da Califórnia, a 8minutenergy Renewables — oito minutos é tempo que leva para a luz do sol chegar à Terra. No estado — um dos mais avançados em energias renováveis dos EUA — demoraram anos até a energia solar ganhar alguma escala . Agora, segundo ele, a previsão é que, daqui a cinco anos , 6% de toda a geração elétrica dos EUA dever ão ser de origem solar . No Brasil , o índice era de 0,003% em 2014. Haubenstock esteve no Rio nesta quarta-feira , para participar do seminário Brasil Solar Power.

O que podemos aprender com a experiência americana para geração solar?

Nós vemos muitos paralelos entre as experiências californiana e a brasileira. O Brasil tem muitos recursos solares, tem muitas necessidades energéticas e, como a Califórnia, tem muita geração hidrelétrica. Nós vimos um crescimento tremendo em energias renováveis no meu estado, embora isso tenha levado algum tempo para ocorrer. A primeira lei que previa geração renovável foi aprovada em 2002, mas não vimos muito acontecer até 2010, por conta da crise econômica. Mas hoje, não só na Califórnia, mas em todos os EUA, hoje prevemos que 6% da energia elétrica total virá de fonte solar nos próximos cinco anos.

A Califórnia optou por grandes usinas , ou geração solar distribuída em casas e comércios?

A grande maioria do crescimento veio de grandes usinas, porque elas são em geral 25% mais baratas do que a energia distribuída. Mas há coisas que a geração distribuída pode fazer que a concentrada em grandes usinas não pode, como permitir a construção em áreas urbanas e até fornecer, combinada com baterias, soluções de confiabilidade ao sistema, economizando milhões de dólares. Depende do local.

Os equipamentos em escala residencial costumam ser caros e aqui não há grande oferta de financiamento facilitado para essa finalidade. Como resolveram isso?

O crédito pode ser até 40% do custo dos projetos nos EUA. Para as grandes usinas, isso é melhor, porque há mais regras e experiência sobre isso, além de benefícios fiscais. Para instalar painéis em tetos residenciais e comerciais, está se trabalhando para inclu í-los no financiamento imobiliário. Então você consideraria o sistema solar um investimento na propriedade e poderia tomar esse crédito por até 30 anos, como uma hipoteca, o que torna o equipamento mais acessível.

No Brasil, tempos planos para geração distribuída, mas há problemas institucionais e tributários que travam a expansão.

Isso só se resolve com a experiência. Em 2002 , a Califórnia aprovou a lei que previa que 20% da sua geração de energia deveria ser renovável. Em 2008 , mudou-se a previsão para 33%, mas havia ainda muitas críticas quanto à confiabilidade do sistema renovável e o custo dessa migração, entre outras discussões. Mas, depois da previsão de 33%, logo avançou-se para a meta de 50%, com quase nenhum debate, por causa do maior conhecimento sobre o tema. Particularmente , o custo da energia solar cai mais quanto mais você implanta, por causa dos ganhos de escala.

O Brasil procura produzir aqui os painéis solares, para ganhar essa escala e gerar empregos. O que acha disso?

Um dos meios que encontramos para nos tornar líderes do mercado como independentes foi promovermos competição para reduzir custos, trabalhando com fornecedores em todo o mundo. A competição reduz o custo total e aumenta a performance dos equipamentos. Em termos de criação de valor para a sociedade, por produzir energia com custos menores cria-se mais trabalhos na economia. É melhor ter mais trabalhadores construindo painéis ou é melhor ter uma economia mais sadia, com energia limpa e mais barata? Achamos que os painéis solares serão cada vez mais baratos e, com o avanço da tecnologia, eles se tornam obsoletos rapidamente, como celulares. Ou seja, é preciso tomar cuidado quando você pensa em quais empregos quer gerar.