RIO – Após sucessivas análises desde dezembro, pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) podem estar perto de identificar a causa de uma doença ainda de origem desconhecida, marcada pelos sintomas de intensa dor muscular e a coloração preta na urina, que já contaminou pelo menos 52 pessoas na Bahia no último mês. Os cientistas devem ter uma resposta definitiva na próxima semana, mas testes de fezes e urina indicam que a origem da doença pode ser viral, causada pelo enterovírus ou pelo parechovírus. Apesar de não serem fatais, os microorganismos podem levar para um quadro de insuficiência renal, caso não forem tratados de forma adequada.
De acordo com Gúbio Soares, do Laboratório de Virologia da UFBA, a manifestação dos sintomas na Bahia se assemelha a pequenos surtos ocorridos no exterior no passado e causados pelo parechovírus, como no Japão, entre 2008 e 2014, França, entre 2008 e 2010, e Dinamarca, em 2014. Já o enterovírus é também um conhecido causador de doenças, como a meningite viral em crianças.
? Já identificamos a família do vírus, e agora estamos trabalhando para sequenciar o material genético. Esse vírus não é fatal, mas pode levar à insuficiência renal. Por isso, é muito importante procurar o médico em caso de sintomas. A pessoa não deve, por exemplo, tomar antiinflamatório de jeito nenhum ? explica Soares, que vem trabalhando em parceria com a professora Sílvia Inês Sardi, também coordenadora do laboratório.
Segundo a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), um homem que morreu no último dia 31 também apresentou os sintomas ? mas não atribuiu o óbito à doença, uma vez que a vítima também sofria de outros problemas de saúde, como a hipertensão.
As 52 pessoas que apresentaram o quadro tiveram seus casos notificados entre 14 de dezembro de 2016 a 5 de janeiro de 2017. Por enquanto, a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Divep) do estado trata do mal como “mialgia [dor muscular] aguda a esclarecer”. Salvador concentrou a maior parte dos casos (50), seguida por Vera Cruz (1) e Lauro de Freitas (1).
A Sesab está monitorando e analisando os casos suspeitos. Dentre os 44 já investigados, 43 (97%) apresentaram dores musculares intensas de início súbito; 21 (47%) urina escura; 19 (43%) dor ao leve toque no corpo; e 16 (36%) dores nas articulações e sudorese.
Amostras de água da rede de abastecimento de Salvador já passarem por análise, demonstrando qualidade satisfatória. Agora, a Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, está analisando outras sete amostras de fezes.
Já o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, está investigando, em peixes enviados in natura, a presença de metais pesados, uma vez que as primeiras suspeitas foram a de que peixes consumidos na região estariam causando a intoxicação. Duas amostras de peixe consumidas por pacientes serão também enviadas para análise no estado do Alabama, nos Estados Unidos.
No entanto, Soares sustenta que a causa da doença é viral, sendo transmitida por via fecal e oral, e não a contaminação da água. E também minimiza uma grande ameaça:
? Esta época do ano é marcada pela aglomeração na cidade, atrai turistas de diversos lugares, então os riscos de contaminação aumentam mesmo. Mas esses vírus já estão identificados há muito tempo.