VENEZA ? Sete anos após ?Direito de amar? (2009), que deu ao britânico Colin Firth a Taça Volpi de melhor interpretação masculina no Festival de Veneza, o estilista americano Tom Ford retorna à mostra italiana para provar que está levando a carreira de diretor de cinema a sério. Um dos títulos mais aguardados da temporada, ?Nocturnal animals? fez sua estreia mundial ontem na corrida pelo Leão de Ouro cercado de segredos ? havia mais vigias dentro da sala Darsena, onde aconteceu a primeira sessão para a imprensa, do que policiais do lado de fora controlando o acesso ao espaço. A plateia de jornalistas, no entanto, reagiu com aplausos modestos.
Drama intimista ambientado nos anos 1960, ?Direito de amar? era projeto do tamanho das ambições de um debutante cheio de estilo, coescrito por Ford e David Scearce a partir do livro ?A single man?, do inglês Christopher Isherwood. Talvez estimulado pela boa repercussão da sua estreia como realizador ? o filme ganhou indicações ao Globo de Ouro e ao Oscar ?, o estilista ganhou mais confiança para abraçar uma das mais populares vertentes do cinema de gênero, o thriller. Ambicioso, tomou para si o trabalho de adaptar o romance ?Tony & Susan?, do escritor nova-iorquino Austin Wright.
Protagonizada por Jake Gyllenhaal e Amy Adams, ?Nocturnal animals? é uma história de vingança ambientada entre elegantes e frias galerias de arte de Los Angeles e as estradas poeirentas das regiões desérticas do Texas. A trama é centrada na figura de Susan Morrow (Amy), galerista que atravessa momento de turbulência no casamento e nos negócios. Ela recebe o manuscrito de um livro a ser publicado pelo ex-marido, Edward (Gyllenhaal), de quem se separou há 20 anos, quando ela aspirava a ser artista plástica, e ele a escritor. A história é narrada em três níveis: no presente, na memória da protagonista e na leitura do romance.
A ficção dentro da ficção descreve a tragédia de Tony Hastings (também interpretado por Gyllenhaal), professor universitário que busca ajuda da polícia para encontrar os criminosos que atacaram e mataram sua mulher e sua filha adolescente, durante uma viagem de carro da família. O líder da gangue de arruaceiros é vivido por Aaron Taylor-Johnson; Michael Shannon encarna o policial encarregado de investigar o crime, um sujeito que tem pouco a perder, pois padece de um câncer no pulmão. O livro é dedicado a Susan, e Edward quer sua aprovação para publicá-lo, como fez na época em que estavam juntos e ele escrevia seu primeiro romance.
? O filme não é exatamente sobre vingança, mas sobre o sentimento devastador de culpa que atravessa uma pessoa quando ela coloca em apuros aqueles que ama profundamente ? disse em Veneza o estilista e cineasta de 55 anos, que já esteve à frente das grifes Gucci e Yves Saint Laurent antes de criar a sua própria marca.
Amy Adams, a Lois Lane do último reboot da franquia ?Superman?, afirmou que o sentimento de vingança ?não é útil, não resolve nada?. Gyllenhaal, que interpreta Edward em versão jovem e um Tony maduro, fisicamente devastado pela violência, concordou com seus companheiros de equipe:
? Tony se depara com a sua incapacidade de proteger a quem ama, que é um tema muito interessante. Acredito na palavra vingança, mas não acho que ?Nocturnal animals? seja um filme sobre vingança. Meu personagem é um sujeito que odeia armas, não tolera violência, mas acaba tendo que lidar com elas para fazer justiça.