Cotidiano

Depois de podcast 'Serial', Adnan Syed ganha novo julgamento

RIO ? Adnan Syed, hoje com 35 anos, foi condenado à prisão perpétua com apenas 19, considerado culpado pelo assassinato da ex-namorada Hae Min Lee. Entretanto, seu caso agora será reaberto e ele vai passar por um novo julgamento, em parte, graças ao fato de ter se tornado extremamente popular nos Estados Unidos por causa do podcast “Serial”. Links ‘Serial’

Em 2014, a produtora de rádio Sarah Koenig recebeu um pedido de ajuda de uma amiga de Syed, que nunca acreditou em sua culpa. A jornalista investigativa ficou intrigada com o caso, e transformou sua própria apuração em um audiodocumentário de 10 episódios. O podcast caiu nas graças da internet e, ainda hoje, o primeiro episódio se encontra no top 10 do iTunes. “Serial” está em sua segunda temporada, desta vez contando o caso de um soldado americano que se tornou prisioneiro de guerra, e é o segundo podcast mais popular no ranking da loja americana do iTunes.

Durante o julgamento de Syed, uma das principais provas usadas para condená-lo foi o resultado da triangulação de torres de celular que o colocavam no Leaking Park, local onde o corpo de Hae foi encontrado. Entretanto, os registros fornecidos pela AT&T, de uma época em que celulares não possuíam chips GPS, só poderiam ser utilizados com precisão para localizar um cliente no caso de ligações feitas, e não recebidas, como está escrito em pequenas letras no fax enviado pela operadora na época.

A informação não foi utilizada pela advogada de defesa, Cristina Gutierrez, que perdeu a licença posteriormente e morreu alguns anos depois de seu cliente ir para a cadeia. Ela ainda deixou de apresentar um álibi para Syed: uma conhecida dele enviou uma carta à prisão dizendo que se lembrava de tê-lo visto na biblioteca da escola no momento em que Hae desapareceu, e estaria disposta a testemunhar.

adnanlarge5.jpgO juiz que concedeu o novo julgamento a Syed, Martin Welch, concordou com a argumentação de sua defesa: em 2000, Cristina Gutierrez não representou de forma adequada os interesses de seu cliente. Ela deveria ter usado as informações da operadora para questionar as alegações da promotoria: as duas ligações recebidas pelo então adolescente no dia do assassinato, às 19h09 e 19h16 de 13 de janeiro de 1999, foram cruciais em sua condenação.

As letras miúdas da AT&T foram descobertas por Susan Simpson, uma advogada de Washington que participou de um segundo podcast sobre o caso, “Undisclosed”, no qual a inocência de Syed é abertamente defendida. “Serial” teve uma abordagem diferente, expondo as constantes dúvidas dos jornalistas que investigaram o crime de 16 anos atrás.

No começo deste ano, outra série documental também teve grande êxito: “Making a murderer“, da Netflix, investigou o caso de Steven Avery, que passou anos na cadeia por um estupro que não cometeu e que, depois de libertado, foi preso novamente, condenado por assassinato.