Cotidiano

Delator diz que Eike Batista acertou propina com Cunha e Funaro

INFOCHPDPICT000064659475BRASÍLIA ? O empresário Alexandre Margotto afirmou em sua delação premiada que Eike Batista pagou propina para conseguir liberação de recursos do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS). Segundo Margotto, a negociação envolveu o doleiro Lúcio Bolonha Funaro, que era seu sócio, e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Margotto relata que Funaro bradava ter muito poder, a ponto de peitar Eike quando ele era um dos dez homens mais ricos do mundo e ainda não estava preso em Bangu.

? Nem sei o quanto era euforia ou realidade. O Eike na época era considerado um dos dez homens mais ricos do planeta. E (Funaro) falando: ah, ele acha que eu vou lá conversar com ele, eu não vou não, ele que venha até meu escritório, se ele acha que ele tem a turma do PT, ele vai ver a dificuldade que ele vai ter para pegar esse empréstimo – afirmou Margotto, acrescentando:

? E assim, meio se enaltecendo pelo poder do não, do veto. E, segundo ele, depois de um tempo falava pro Fábio: não faz nada, não assina nada, esse cara não vai ter um real, tá pensando o quê. Enfim, depois ele narrou para mim que ele tinha por intermédio de Joesley Batista marcado num lugar neutro,porque Eike não ia no escritório dele (Funaro) de jeito nenhum. Talvez por ego.

Fábio é Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa que fazia parte do esquema. Joesley Batista é um dos donos do grupo J&F, que detém o frigorífico JBS e a marca Friboi. Segundo Margotto, por meio de Joesley, foi marcado um jantar em Nova York entre Eike e Funaro. O delator não sabe se o encontro ocorreu, mas confirmou que houve um acerto. Disse também não se lembrar de quanto foi a propina, mas acredita que não tenha superado 1,5% do valor do contrato.

? Eu sei que, depois de um tempo, o Lúcio ou o próprio Eduardo Cunha teve sim um acerto. Mesmo porque o Fábio me falou que o Eduardo tinha pedido seguir coma operação ? disse ele.

Margotto relatou ainda a compra de uma decisão de um juiz arbitral relativa a uma disputa entre Funaro e o grupo Schahin pela pequena central hidrelétrica de Apertadinho, em Rondônia. Nos documentos entregues por Margotto ao MPF, ele diz que o valor pago foi de R$ 750 mil. No depoimento, ele não citou valores.

Margotto disse também que Marcos Vasconcelos, ex-vice-presidente de Gestão de Ativos e Terceiros da Caixa, era da cota do PT. Mensagens trocadas entre Margotto e Cleto, e uma investigação prévia da PF já apontavam irregularidades na Caixa com a participação de Vasconcelos.

O advogado Fernando Martins, que defende Eike Batista, disse que seu cliente nega as acusações e que vai provar que é inocente em juízo. Vera Carla Silveira, advogada de Funaro, informou que já teve acesso à delação de Margotto, mas ainda não a analisou. De qualquer forma, adiantou que Funaro e Margotto são inimigos assumidos, e que isso tem que ser levado em conta. A J&F também nega irregularidades em seus negócios com Funaro.