DAVOS (Suíça) – A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos e a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) dominaram mais uma vez os debates do Fórum Econômico Mundial de Davos (WEF). Um dos paineis desta quarta-feira tratou da insatisfação da classe média nos países desenvolvidos com seus governos. Isso provocou uma rejeição das políticas propostas, provocou uma onda antiglobalização e reforçou discursos populistas como o adotado por Trump para vencer nas urnas.
Participaram do debate a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, o ministro das Finanças da Itália, Pier Carlo Padoan, o ex-secretário do Tesouro americano, Larry Summers, o criador do fundo de investimentos Bridgewater, Ray Dalio, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Segundo Padoan, os governantes precisam rever sua forma de lidar com a classe média nas economias desenvolvidas, pois essas pessoas sofreram impacto da crise econômica mundial e hoje está desiludida em relação ao futuro, rejeitando tudo o que se propõe:
? A classe média está desiludida em relação ao futuro, em relação às perspectivas de empregos para seus filhos e em relação ao futuro de sua rede de proteção social. Eles dizem não para qualquer política que é sugerida. É muito mais difícil resolver um problema assim. É preciso pensar em como trazer essa classe média de volta ? disse Padoan.
O ex-secretário do Tesouro americano ressaltou que o encolhimento da classe média nos Estados Unidos abriu caminho para que as pessoas que sofreram perdas ficassem favoráveis ao discurso populista de Trump, que critica os imigrantes e quer fechar o mercado americano. O empobrecimento e a rejeição aos imigrantes também foram os principais motivos que permitiram a concretização do Brexit:
? É uma manifestação significativa. O populismo é contraprodutivo para aqueles que o escolhem. As pessoas que serão as vítimas dessas políticas ? disse o ex-secretário.
Summers afirmou que presidente eleito Trump ligou recentemente para grandes empresas que tinham negócios no México para obrigá-las a trazer empregos para os Estados Unidos. Segundo ele, isso vai impactar negativamente o mercado de trabalho nos dois países. Isso porque pode provocar o fechamento de vagas no México, mas também vai levar a uma queda do peso em relação ao dólar, tornando o mercado do país latino-americano ainda mais atraente para as empresas dos EUA.
Meirelles destacou que a onda antiglobalização e populista que afeta hoje os países desenvolvidos não se repete no Brasil e ressaltou que o país quer se beneficiar da abertura de mercados. Segundo ele, a globalização foi um dos fatores que permitiram a entrada de mais pessoas na classe média nas economias emergentes.
? Evidentemente que globalização trouxe pessoas da classe baixa para a classe média. Isso é extremamente positivo.
Mais tarde, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, também comentou a importância da globalização para o Brasil
? Mercados emergentes se beneficiaram da globalização e apoiamos a continuação disso. No caso do Brasil houve aumento da classe média nas últimas décadas.